Claire Scorzi 17/12/2010
Já não se escrevem livros assim....
O que diferencia este folhetim de Alexandre Dumas dos besta-sellers da hora e das telenovelas de enésima qualidade (não seja preconceituoso: há telenovelas acima da média)?
Em primeiro lugar: estamos diante de um contador de histórias. E isso não é pouca coisa. O autêntico contador de histórias nos faz vibrar, torcer, temer, nos apresenta heróis e heroínas com os quais nos identificamos e a quem amamos. Uma boa história - vá lá, é possível. Mas de quantos livros de aventura se pode dizer que fazem vivos seus protagonistas?
Em segundo, um pano de fundo histórico pouco divulgado - as escaramuças entre França e Holanda no século XVII, enquanto o país de Rembrandt e Van Gogh cultivava a mania das tulipas. O linchamento sanguinolento narrado nas páginas iniciais aconteceu de fato.
Em terceiro: um herói apolítico, um precursor dos cientistas Oexcêntricos que grassaram e ainda surgem no cinema americano dos séculos XX e XXI - alguém que ama suas flores, dedica-se a elas e em criar a sonhada e então inexistente "tulipa negra", e nada mais. Inocente, Cornelius Van Baerle é vítima de inveja e calúnia. Como já apontou Umberto Eco a propósito de outro sucesso de Dumas, "O conde de Monte Cristo", a inocência injustiçada é sempre cativa os leitores. Ver um justo sofrer por intrigas é tema que conquista e atrai de imediato as simpatias do público.
Quarto, uma narrativa que equilibra diversos elementos: política, ação, violência (mas sem excessos; Dumas, que devia ensinar isso aos escritores de hoje, guarda a descrição de violência na medida, nunca a banaliza), humor, diálogos românticos, pitadas de ironia (a começar do título do primeiro capítulo: um povo agradecido...), sem cansar e sem parecer apressada: perfeita.
O romance é um excelente exemplar da escola do Romantismo, evidente na caracterização dos herói e heroína e ao descrever o amor entre eles. Vale dizer ainda que Dumas, colocando-se no lugar do leitor, de vez em quando nos 'alivia' das injustiças contra Van Baerle, ridicularizando o invejoso inimigo deste.
Ah, Dumas sabia das coisas...