Manuella_3 10/01/2015
"Existe vida depois da morte?
Não importa.
‘O que importa é esta vida. Esta vida já dá trabalho demais.’
Palavras de Chico Xavier, quando se aproximavam dele para pedir informações sobre vidas passadas ou provações futuras.
O importante - e difícil - é saber viver aqui e agora.“
Depois do sucesso da biografia As Vidas de Chico Xavier (2003) e do investigativo Por trás do Véu de Ísis (2004), Marcel Souto Maior traz para o leitor as respostas que costuma dar nas entrevistas e palestras por todo o Brasil. No pequeno e prático As Lições de Chico Xavier (Planeta, 96 páginas) o autor fala um pouco do que experimentou durante o trabalho para compor a sequência de livros sobre Chico e o que mudou em sua vida após o encontro com o maior médium espírita de todos os tempos.
Despretensiosamente, vai soltando nas poucas páginas fragmentos do que vivenciou ao longo do árduo trabalho de conhecer o homem por trás do médium, a personalidade do grande psicógrafo, a força que sustentava o Chico caridoso, as razões de seu desprendimento e dedicação à causa cristã.
"- Ajuda o outro e você vai estar se ajudando - recomendava às mães e pais atordoados, depois da morte de filhos. (...) Ao ajudar o outro, a pessoa sai do ‘próprio umbigo’, vence a paralisia e entra em contato com dores e necessidades, às vezes maiores do que a dela própria. Nesse instante, ela inicia uma nova etapa na sua vida, com mais sentido e menos dor.”
A princípio pensei que o livro fosse um pequeno compêndio de ensinamentos do gigante humilde da pequena cidade de Pedro Leopoldo, o Chico que todos conhecemos e aprendemos a respeitar. Mas o relato é um apanhado de lições apreendidas pelo autor enquanto descobria um pouco mais sobre a vida do médium, além da dúvida de permanecer escrevendo sobre o mineiro e sua importância para o Espiritismo no Brasil.
É saboroso para o leitor acompanhar momentos íntimos e reveladores como o choro “inconsciente” do autor e outros fenômenos que apontavam para o sucesso dos livros:
"Os fenômenos das 'lágrimas inexplicáveis' e da 'mão pegando fogo' - é assim que os intitulo hoje - ajudaram o jovem repórter cético a entender que estava entrando num mundo novo, o universo de Chico Xavier, e que era preciso percorrer este território com mais cuidado e respeito.”
Um fato interessante: Marcel inicialmente pensava em fazer apenas a biografia de Chico, mas foi conduzido a continuações do mesmo tema – o espiritismo - nas obras posteriores. Conta como tentou se afastar, mas recebia recados e outras manifestações de que estaria no caminho certo. O que ele chama de inexplicável ou imaginou ser coincidência, pela condição de jornalista que quer se distanciar do fato para manter uma imparcialidade jornalística, os espíritas e simpatizantes da doutrina de Kardec compreendem como algo natural e até mesmo corriqueiro.
Marcel reconhece que o encontro com Chico e a Doutrina Espírita promoveu mudanças em sua vida:
“O espiritismo aumenta, sim, a responsabilidade de todos nós diante da vida, ao nos tirar do próprio umbigo e nos colocar em contato com o outro. Estas são as principais lições do espiritismo pra mim. Hoje luto para ser menos egoísta e mais tolerante, apesar de não me considerar espírita.”
De acordo com o Espiritismo, quando um trabalho precisa ser feito, será feito, ainda que seja preciso substituir o convocado para o ofício. Marcel não fugiu à responsabilidade e presenteia os leitores com mais uma obra enriquecedora, recheada de fatos curiosos e até mesmo divertidos dos bastidores. Em suas conclusões, a certeza de que Chico Xavier cumpriu a missão à qual fora designado:
“Os céticos podem duvidar de tudo – da vida depois da morte, da sobrevivência do espírito -, mas não devem negar um fato: movido pela própria fé, Chico foi coerente do início ao fim de sua trajetória.”