Newton Nitro 13/05/2013
Pale Fire (Fogo Pálido), o romance-poema obra-prima de Nabokov que detona a crítica a literatura!
Terminei de ler pela primeira vez a obra-prima de Vladmir Nabokov (o mesmo autor de Lolila), o romance experimental pós-moderno Pale Fire (Fogo Pálido). O estranho romance, que tem uma estrutura bizarríssima e jamais replicada novamente pelo que eu sei, é apresentado como um romance de 999 linhas escrito pelo poeta ficional John Shade, com um prefácio e comentários surreais de um colega e admirador fanático Charles Kinbote. Além disso, no final do livro tem um índice (!!!) que é também uma nova narrativa.
Esses elementos criam um livro difícil de descrever. Parte do livro é o poema, parte do livro são os comentários dos versos (que não tem nada haver com o poema em si). Nos comentários, o Prof. Kinbote conta a história de uma nação fictícia dos Balcãs chamada Zembla, cujo rei King Charles, fugiu de uma revolução comunista. Essa trama se junta a descrição de Kinbote sobre o dia a dia da vida de John Shade durante a composição de Pale Fire, pontilhando seus comentários ácidos com articulações e críticas direcionadas a uma variedade imensa de assuntos, desde a falência da intelectualidade contemporânea, questões existenciais, sexo e obsessão, frivolidades, consumismo, crítica sociedade americana, às revoluções comunistas, etc.
O livro é muito engraçado. Os comentários do Kimbote sobre as linhas do poema (que é muito bom por sinal) não tem nada haver com o poema, existem apenas para ele contar a história bizarra do Rei Charles de Zembla.
O romance é uma coisa de doido, os temas ecoam entre si, o poema reflete os comentários que se refletem nas tramas, personagens se encontram com autores, fenômenos paranormais são causados e influenciam poetas,etc.
O estilo é impecável, as frases se alternam com ritmo e clareza, e a prosa varia entre a narrativa direta até a narrativa poética. E o narrador, totalmente não confiável, é engraçadíssimo.
Pude ver como esse livro claramente influenciou autores como Terry Pratchett e Douglas Adams. Este último usou muito dos artifícios e do humor de Pale Fire na composição do Guia dos Mochileiros das Galáxias.
É um livro difícil mas impressionante, cada frase cravada em diamantes, fantástico. Obrigatório para os admiradores de Nabokov e para quem quer ter um gostinho do que a academia considera Alta Literatura.