Arnoldo 06/01/2018
A conquista da América e as consequências de Babel
Ao passear por uma livraria, ao verificar a seção de história, acabei por me deparar com esse livro, cujo objeto mais o nome do autor me chamaram bastante a atenção. Explicando melhor, o objeto “A conquista da América” sempre foi algo que me interessou bastante, portanto quando vi o nome do autor, com uma grafia bastante semelhante a da língua russa, confesso que minha curiosidade foi ativada, porque nunca havia lido nada sobre a Conquista da América escrito por algum escritor fora do círculo latino/ocidental.
O autor nasceu na Bulgária, um país eslavo, criou-se em um país comunista, afetado pela 2ª Guerra Mundial, até mudar-se para a França, portanto era de se esperar que sua concepção e visão de mundo provavelmente seriam muito diversas daquelas às quais nós, latinos e ocidentais, estamos acostumados.
O livro se mostrou uma agradável surpresa, superando em muito todas as expectativas que nele havia depositado. A obra não é um livro de história, apesar de conter uma riqueza histórica magnífica, ele é um livro sobre relações humanas, sobre o “outro”, sobre a “alteridade”, e nisso ele é grandioso.
Para tratar sobre as questões de relacionamento humano ele utilizou como exemplo a Conquista da América, o contato entre a civilização ocidental, representada pela cultura Espanhola e a civilização “Mexicana”, representada pelos diversos povos que habitavam aquela região. Realizou interpretações de como os espanhóis viam os índios e como estes viam os espanhóis.
Tentou entender o porquê dos espanhóis terem perpetrado um massacre tão grande, o porquê da resistência dos índios ter sido tão inepta, é um livro de porquês, sem grandes respostas, principalmente porque as respostas não importam tanto quanto as perguntas, é um livro que nos leva a refletir.
As suas questões são totalmente atuais, visto que a questão do outro continua presente, como mostra a história recente com o advento do Nazismo, do Comunismo, com sua visão unilateral em relação a todas as outras formas de governo e liberdades individuais, do extremismo religioso, com seus Talibãs e Estados Islâmico, dos massacres étnicos em vária partes do globo (Ex-Iuguslávia, vários países do continente africano e asiático, Oriente Médio), das segregações de povos (muro na fronteira EUA/México, Guetos nas cidades europeias) e inúmeras outras questões resultantes da falta de compreensão e reconhecimento do outro.
Como o autor adianta no início de sua obra:
“ Escolhi contar uma história. Mais próxima do mito que da argumentação, mas distinta em dois planos: em primeiro lugar é uma história verdadeira (o que o mito podia mas não devia ser); em segundo lugar, meu interesse principal é mais o de um moralista do que de um historiador. O presente me importa mais do que o passado. Não tenho como responder a pergunta de como me comportar em relação a outrem, a não ser contando uma história exemplar (este é o gênero escolhido), uma história tão verdadeira quanto possível, mas tentando nunca perder de vista aquilo que os exegetas da Bíblia chamavam de sentido tropológico, ou moral.”
Como já disse, é um livro para nos fazer refletir sobre como vemos o outro, sobre como o compreendemos, sobre nossos preconceitos, sobre a causa de desentendimentos, para utilizar uma referência bíblica, poder-se-ia dizer que é um estudo sobre as consequências de Babel.