Andrizy 16/08/2019
"Uma jornada muda uma pessoa", diz o pai do protagonista em uma certa passagem da história. Não consigo apontar nenhuma sentença mais certeira do que esta. Olhando pela janela do trem, a caminho da Segunda Guerra Mundial, o jovem soldado Willie confronta seu passado. É como se a janela se convertesse em um telão onde são projetadas as memórias de sua infância e adolescência.
Ao Coração da Tempestade, do mestre dos quadrinhos Will Eisner (criador de Spirit), é uma verdadeira aula de história que apresenta ao leitor as principais transformações sociais e econômicas pelas quais passaram Europa e América durante a primeira metade do século XX, através do olhar de um jovem e carismático protagonista. Recorrendo ao recurso do flashback durante toda a trama, a graphic novel versa sobre o preconceito e o antissemitismo do qual Willie e sua família de imigrantes judeus foram alvos durante toda a vida. Bem como a luta deles para sobreviver em meio à depressão econômica.
A arte primorosa se destaca pela qualidade e elegância do traço e, somada à uma narrativa densa e inteligente, delineiam precisamente o cenário histórico. O preto e branco bem trabalhado e o ótimo jogo de luz e sombras conferem um contraste que ressalta a melancolia da trama e a crueldade dos personagens. Outro item que não posso deixar de citar é a preocupação com os detalhes, especialmente no tocante às manchetes de jornais que sempre aparecem fazendo necessárias e ilustres figurações.
O quote e o quadro que encerram a história apenas confirmam que o leitor está diante de uma obra-prima. Se equilibrando em uma tênue linha entre a ficção e a autobiografia, tendo sido baseada nas memórias do próprio Eisner (ele mesmo a descreve na introdução como uma mal-disfarçada autobiografia), Ao Coração da Tempestade é indispensável na coleção de qualquer amante dos quadrinhos
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