Rosem Ferr 09/12/2012
Muito além de Indiana Jones
Com um enredo repleto de aventuras e desventuras, William Dietrich nos apresenta Ethan Gage:
“ O problema todo começou com a sorte nas cartas. Assim como, com a decisão de me alistar no exército a caminho de uma invasão maluca que parecia ser a melhor solução para a enrascada em que me envolvi. Ganhei uma joia e quase perdi minha vida; então, aprenda uma lição: jogar é um vício.”
Ethan é um “Americano”, com “A” maiúsculo mesmo; sua arrogância temperamental e seu rifle tornam incontestável sua nacionalidade, refletida em um ego descomunal que coloca todos seus coadjuvantes em perpétuo risco.
Atrevido, abusado, destemido, inconsequente, mas tantas vezes ingenuo, Ethan esta mais para Macunaima que para Indiana Jones, o que não o torna menos encantador e carismático diante das situações absurdamente perigosas e insanas que enfrenta no decorrer de suas peripécias.
É sob o ponto de vista dele que vamos desde a França pós revolucionaria :
“Durante o reinado do Terror, o fio da guilhotina fazia da existência em si uma questão de pura sorte. Então, com a morte de Robespierre, veio um alivio insano e casais felizes dançavam sobre os túmulos do cemitério de Saint Sulpice ao som de um novo passo alemão chamado valsa. Agora, mais de três anos depois, a nação mergulhou em guerras, na corrupção e na constante busca pelo prazer.”
Até o Egito mediante a invasão napoleônica:
“ O contraste entre campos fartos e a desolação da areia poderia ser a origem da ideia de expulsão do Éden? Essa sensação deve ter servido como lembrete da breve duração da vida e alimentou sonhos de imortalidade. Com certeza, o calor seco mumificava os corpos naturalmente mesmo antes de os egípcios fazerem isso religiosamente. Imaginei alguém encontrando minha carcaça daqui alguns séculos e vendo minha expressão de arrependimento”
Neste ponto, temos que felicitar Monsieur Dietrich, porque são descrições geniais que passam o verdadeiro clima do instante, é como estar na cena, diante da riqueza imagética que ele estabelece em cenários de sonho.
Ethan, nos cativa a acompanha-lo nesta viagem, seu relato é impar, ele é irônico, despojado, contestador, crítico, impressionável com o inusitado, o que nos rende descrições vividas e encantadoras.
É desta forma que ele, nos fala de Napoleão, ou melhor nos mostra o homem sob o uniforme de General, sob o seu ponto de vista, mas ainda assim o desnuda.
Tendo em vista que a maior parte das personagens foram baseadas na história real, somos convocados a descobrir o quanto foi omitido pelos livros oficiais de história, ou seja :
As relações nada diplomáticas entre a Inglaterra e a França, o segredo sobre a Pirâmide de Gizé, a dificuldade de uma invasão bem sucedida diante do contraste de culturas entre invasores e invadidos e as situações nada heroicas no campo de batalha, ou seja os segredinhos mais secretos de uma guerra, tudo com muita ironia, light sim, mas mesclado de um interessante humor negro.
“Homens surtavam, entravam em colapso, tinham delírios e atiravam neles mesmos . Eram atormentados por um novo fenômeno que os sábios nomearam como miragem, na qual um ponto distante no deserto parecia conter lagos de agua brilhante. A cavalaria avançava em carga máxima até o lugar para apenas encontrar areia seca e, novamente, viam o “lago” no horizonte. Era tão ilusório quanto o fim do arco-íris.”
No decorrer do caminho em busca do segredo do medalhão, somos iniciados em simbologia maçônica, mitologia egípcia e geometria sagrada.
Será Astiza, uma sacerdotisa que Ethan “ganhou” de Napoleão, como serva, que o conduzira através dos mistérios da Grande Ísis, sendo este o elo para ele obter exito em sua busca.
No entanto, o verdadeiro herói da trama , sem dúvida é Ashraf, um descendente dos Ptolomeus ou seja: Cleópatra, Alexandre e César; é ele quem salva Ethan de todos os perigos repetidamente, com entradas triunfais a ponto de quase vermos o americano gritar : “Meu heroi!
E claro, também temos dois mega vilões, Silano e Bin Sadr que são absolutamente insanos.
Assim, decorrem 24 capítulos em 364 paginas de pura aventura, boas risadas, uma linguagem gostosa feito conversa de fogueira, mas sobretudo surpreendente diante de seu valor cultural e histórico.
Apesar de fazer parte de uma coleção de aventuras, tem um final redondinho e bem amarrado, o que não nos prende a sequencia, entretanto para quem ficar fã de William Dietrich, o próximo volume é A Chave De Roseta.
Amei ! E já fiquei Fã.
Recomendo aos amantes de literatura com conteúdo.
Rosem Ferr