CelioVivas 14/07/2011
Paulo Coelho e o Presidente Lula
(Texto originalmente postado no Blog Ponte da Passagem: http://pontedapassagem.wordpress.com/2010/12/20/paulo-coelho-e-o-presidente-lula/)
Há, sim, algumas semelhanças entre o autor e o político. Para começar, as opiniões sobre ambos são geralmente enfáticas, incisivas, extremamente passionais. Não há meio termo. Para o bem e para o mal.
Ou se admira muito tanto o escritor e quanto o líder sindical ou as críticas são as mais ferozes.
Outra coincidência que os aproxima: ambos são duas das personalidades mais respeitadas no planeta. Muito mais que no seu próprio país.
Só Pelé e Ayrton Senna conseguiram tamanha projeção mundial. Com um diferencial: assim que revelaram seus talentos e conquistaram vitórias, os dois esportistas passaram a ter amplo apoio da mídia tradicional.
A intenção aqui não é falar sobre o presidente que está se despedindo, mas sim sobre o eterno parceiro do Maluco Beleza.
Depois de ler a biografia do Mago, escrita pelo fantástico Fernando Morais, têm-se a sensação que Paulo Coelho ganhou na Mega-Sena acumulada. A sua história não é diferente daquele integrante de muitas famílias que aprontou horrores, fez tudo de errado que a vida possibilitou e, quando adulto, se transforma naquele mala que sempre precisa de ajuda, por ter desperdiçado inúmeras oportunidades.
Paulo Coelho foi o autêntico ovelha negra da família.
Só que tinha um ótimo hábito: ler. E ler muito. Também escrevia muito bem. E assim o faz até hoje.
O que talvez o diferencie dos demais é que ele sabe realmente criar histórias em que o leitor se enxerga no papel de protagonista e, a partir daí, passa a questionar alguns aspectos da sua própria existência.
Por conta disso já ouvi alguém comentar: “Não, nunca li Paulo Coelho. Não gosto de livros de auto-ajuda”. Nada mais equivocado.
Outra particularidade interessante da obra do ex-hippie é que ele, em muitos livros é o próprio protagonista. Em histórias como Diário de um Mago, As Valquírias ou no mais recente O Aleph, a personagem Paulo vive situações fantásticas, tais como visões de anjos ou demônios, poderes sobrenaturais, diálogos com seu Mestre, e por aí vai.
O curioso é que, durante as leituras desses livros, passa-se a ter dúvidas se fatos e rituais relatados são pura ficção ou acontecimentos verídicos.
A narrativa realmente envolve o leitor, o torna cúmplice, como se informações secretas estivessem sendo reveladas antes de sua divulgação pelo site Wikileaks.
E, ainda, não há como desconsiderar alguém que já vendeu mais de 100.000.000 (cem milhões!) de livros e é o autor vivo mais traduzido do planeta.
Desde o lançamento de Diário de um Mago, em 1987, O Caminho de Santiago de Compostela deixou de ser um tema exótico para uma reportagem ou trabalho acadêmico para se transformar em uma aventura fascinante para milhares de pessoas todos os anos. O próprio governo espanhol já creditou o aumento do fluxo de andarilhos ao aludido livro do escritor brasileiro.
Como fazer para inspirar pessoas de todo o mundo a ver algum sentido em percorrer 800 quilômetros à pé? Não se sabe ao certo, mas o que se pode afirmar é que cada peregrino que envereda pelo caminho se transforma em protagonista de sua própria história.