DIRCE18 18/11/2013
Avant première
“Memorial de Maria Moura” promoveu minha avant première no universo literário de Raquel de Queiróz, uma avant première que, no início, parecia fadada ao fracasso, porém, assim que deixei de lado as comparações da Maria Moura com outras heroínas nacionais: Ana Terra, Bibiana, Diadorim, e também de comparar o romance com um outro que retrata nosso nordeste – “A Costureira e o Cangaceiro” - , essa minha avant première se constituiu em um sucesso total.
A minha comparação do livro “Memorial de Maria Moura” com o livro “A Costureira e o Cangaceiro” era totalmente descabida, pois Maria Moura era uma sinhazinha, morava bem, tinha escravos para servi-la, porém, quando se tornou órfã de pai e mãe, para não cair nas "garras" dos primos, tomou uma atitude radical que a transformou em fugitiva. Já as duas irmãs protagonistas do “A Costureira e o Cangaceiro” eram filhas da caatinga e da miséria.
E a comparação das protagonistas? Por que Maria Moura levou desvantagem na minha comparação Porque aos meus olhos ela era do MAL. Entretanto, algo chamou minha atenção: o comportamento da Maria Moura e tive que buscar alento na famosa frase: Freud explica. É..., talvez Freud explicasse o porquê de Maria Moura, ao contrário da maioria das meninas que imitam e se espelham nas suas mães, espelhou-se em seu pai. Ela se apossou da arma do pai, despiu–se das suas vestes feminina, cortou seus cabelos, vestiu a roupa do pai, despindo-se, dessa forma, da sua feminidade. Mas não é que, à medida que eu me aprofundava na leitura, fui percebendo que o comportamento de Maria Moura era decorrente da sua negação em se manter sob o jugo de uma sociedade patriarcal ( machista) na qual as mulheres tinham que ser submissas aos Liberatos e Tonhos da vida?
Diferentes personagens cujas existências caminham, quase forçosamente rumo à Moura são os narradores:o Padre que mais a frente se transforma no Beato Romano, a própria Moura, Marialva – prima de Moura e minha heroína mor do romance(ela que era tão submissa ao conhecer o amor enfrenta a megera da cunhada, enfrenta as facas e uma vida de privações com muita valentia) e Tonho– irmão de Marialva, portanto também primo de Moura.
Raquel de Queiróz faz, no romance, uma dedicatória a Elizabeth I – sua musa inspiradora. Essa dedicatória me instigou e, claro que mais uma vez, fui consultar meu velho e, a essa altura do campeonato, meu amigo intimo: o Dr. Google. Essa consulta resultou em uma grande admiração pela escritora. Ela conseguiu trazer para o “nosso mundo”, para o nosso regionalismo, aspectos atrelados ao reinado da rainha Elizabeth I sendo um deles o poder decorrente de conquistas. É pela conquista que Moura impõe sua força, mantém sob seu jugo inúmeros jagunços o que faz dela uma espécie de mito. Porém, assim como os brutos, as brutas também amam, e a bruta Maria Moura também foi vítima do amor. Totalmente rendida, o que lhe restou foi o de encontrar um meio para perpetuar sua fama (má fama, quero dizer, mas justiça seja feita, ela também se prestou ao papel de anjo protetor) e o meio encontrado foi o de enfrentar de “peito aberto” o perigo iminente.
Uma obra brilhante e não seria eu que iria ofuscá-la – 5 estrelas, claro.