spoiler visualizarHel 26/09/2015
Não cheguei a ver a minissérie da Globo, pois na época estava na faculdade e tinha que dormir cedo... mas acho que foi bem melhor assim, ou não poderia deixar de fazer comparações.
A história me apaixonou, tanto que cheguei a comprar o livro. Maria Moura é uma personagem complexa, que faz o necessário para sobreviver, mas que também tem o seu lado meigo e se esforça para não ser cruel sem necessidade. Ela começa a vida como tantas outras meninas na sociedade patriarcal do meio do século XIX (parece ser mais ou menos dessa época, porque ainda há escravos e o dinheiro em papel é novidade) : quando se torna moça, é obrigada a ficar trancada em casa, esperando casamento. Tudo começa a mudar depois que seu pai morre e sua mãe arruma um amante mais jovem, Liberato, afrontando as regras da sociedade Algum tempo depois, "Mãe" aparece morta, aparentemente, por suicídio; com o choque, Maria Moura fica fragilizada e é facilmente seduzida pelo padrasto. Mas logo ela acorda quando percebe que tudo o que Liberato quer são as terras da fazenda e que provavelmente matou a mãe dela - e MM é a próxima da lista. Decidida a se proteger, a garota manipula um empregado que era apaixonado por ela pra fazer o serviço sujo - isso não foi bonito, mas dá-se o desconto de que ela não podia pedir ao fiel capataz João Rufo que matasse o bandido, sem que os dois fossem presos, quanto mais provar que Liberato ia mesmo matá-la.
Depois que o apaixonado se revela um brutamontes que não a deixa em paz, Maria Moura se livra dele também, desta vez com a ajuda de João Rufo; mas ela mal tem tempo de dar um "ufa" quando seus primos gananciosos aparecem,querendo tomar a fazenda e obrigá-la a casar com um deles! Ela dá um basta nisso tudo e pra se libertar de vez, toca fogo na casa e escapa acompanhada de alguns homens, a fim de encontrar umas terras herdadas do avô. Para realizar seu sonho, ela rouba e saqueia, mas também tenta ser justa: não permite que seus homens cometam brutalidades e muitas vezes não leva tudo o que as vítimas tem. Além disso, ela e seu pessoal também ajudam quem está realmente na miséria - um dos meus trechos preferidos é quando eles encontram o casal de quilombolas idosos e seus netos, praticamente salvando a vida deles. E sua fazenda, depois de construída, se torna um santuário para quem merece - incluindo o padre culpado de ter matado (em legítima defesa) o marido da amante, e a prima da própria Maria Moura, que fugiu de casa para poder se casar, junto com o marido e o filhinho.
A parte do livro que menos gosto é quando Maria Moura se apaixona por Cirino; tanto porque eu preferia o romance dela com Duarte como porque me irrita bastante esse negócio de uma mulher se apaixonar por um cara que a estuprou na primeira - e foi estupro mesmo, não há duvidas. É uma pequena decepção que tenho com Raquel de Queirós, tão mestra em desvendar a alma feminina e comete uma escorregada dessas. O desfecho de seu romance com Cirino, embora o cretino merecesse o castigo, poderia ter sido bem melhor. E o final termina em suspense: você não tem certeza se Maria Moura chega a morrer no ataque ao bando de tropeiros ou se ela sobrevive; tem-se quase por certo que não. É um fim que dá um travo amargo à boca e mesmo assim, é meio que esperado, levando-se em conta o tipo de vida que ela leva. Apesar disso, muitas vezes me peguei a lamentar que Maria Moura não fosse uma personagem real, pois a maneira que Raquel descreve os fatos, dá a impressão de que poderia ter realmente existido.