Daniel 06/06/2013A Era do JazzMais um dos meus favoritos.
Em resumo, uma história de amor, ou da tentativa de resgatar o grande amor da juventude.
Talvez o leitor muito jovem tenha alguma dificuldade de enxergar o que está por trás, nas entrelinhas deste famoso romance. Acho que uns bons anos vividos e um pouco de desilusão ajudam a entender melhor, a se identificar e se emocionar com a trajetória destes desiludidos personagens.
O narrador/espectador da vida dos milionários do leste americano é Nick Carraway: um típico americano de classe média do interior dos Estados Unidos que vai morar no litoral leste, próximo a Nova York, e sua casa modesta destoa das mansões dos milionários daquela região.
Nick vai conseguir seu passaporte de entrada neste mundo de luxo através da sua prima Daisy, e também de seu vizinho, o famoso Gatsby. O que Nick não sabe é que Gatsby e Daisy viveram um romance quando eram jovens. Nick várias vezes vai se sentir um peixe fora dágua entre a ostentação e as intrigas dos bem nascidos, ao mesmo tempo que se deslumbra com o luxo e o refinamento de seu vizinho.
Aos poucos o leitor vai descobrindo (ou não) a origem da riqueza de Gatsby, mas o mais importante é o motivo pelo qual ele sempre quis enriquecer a todo custo: estar à altura da sua amada de juventude, a romântica e fútil Daisy.
Nick vai servir de elo para a reaproximação do casal, e sendo assim, terá uma visão privilegiada de ambos os lados, conhecendo de perto as frustrações de um grupo que aparentemente tem tudo na vida: a insegurança de Daisy, sua superficialidade e infelicidade no casamento com (o rico, rude e infiel) Tom Buchanan; a amante de Tom, Myrtle, esposa do infeliz mecânico Wilson; a desonestidade da esportista Jordan, a esnobe amiga de Daisy.
Nick será o único personagem a conhecer melhor o grande Gatsby, ou pelo menos o único que vai tentar juntar as peças da complexa personalidade deste personagem fascinante.
Eu me identifiquei várias vezes com as observações do narrador Nick, com suas reflexões.
Há uma riqueza de imagens marcantes: as festas incríveis de Gatsby, com convidados que o próprio anfitrião nem conhecia, enquanto esperava, frustrado, pela sua preferida Daisy, que nunca comparecia à tais festas; os olhos o Dr. Eckleburg, um outdoor que parecia vigiar o desolado vale das cinzas da oficina de Wilson; a luz verde (esperança) acesa do outro lado da baía, eternamente espreitada por Gatsby...
No meio de tantos excessos, um clima de desilusão, de fracasso do sonho americano na terra liberdade e das oportunidades pré crack 1929.
Excelente a nova edição da Penguin/ Cia das Letras, com ótimo prefácio, notas explicativas e ótima tradução.
Já reli várias vezes, e minha satisfação ao final de cada releitura se renova.