O imaginário da Renascença

O imaginário da Renascença Claude-Gilbert Dubois




Resenhas - O imaginário da renascença


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brunossgodinho 18/07/2020

Imaginário: uma figura natimorta?
Há muitos anos que tinha este livro. Comprei-o quando estava iniciando minhas pesquisas sobre alquimia na graduação, por volta de 2012. Demorei muito para lê-lo porque, à época, percebi que não teria tempo de incluí-lo nas leituras necessárias e possivelmente não seria de grande auxílio quando eu desejava investigar o "imaginário". Por acaso, fiz bem.

Claude-Gilbert Dubois é crítico literário e seu trabalho se concentra sobre o século XVI. Este livro foi publicado originalmente em 1985, gozando da influência da antropologia do imaginário proposta por Gilbert Durand. Assim, as dimensões históricas da pesquisa que deu origem ao livro são alargadas e transformadas pela interação com a crítica literária e a antropologia.

Em suma, o que o autor faz ao longo do livro é a aplicação de certas categorias antropológicas, pesadamente investidas de uma análise psicológica, para entender uma categoria amplamente difundida pelos historiadores franceses, desde o início do século XX: a mentalidade. Cientes da fragilidade dessa ideia - como tudo que parece ser autoevidente, trata-se de uma categoria científica carente de rigor - os franceses passaram a tentar, por diversos caminhos, revisá-la. Não à toa, o próprio Jacques Le Goff, um dos principais operadores do conceito de mentalidade, vai gradualmente revisá-lo em direção do que, igualmente, tentou apreciar em seus estudos como "o imaginário".

Essa categoria, ao que parece, já surgiu sendo questionada. Historiadores como Roger Chartier, imbuídos de um arsenal crítico bem mais abrangente que as gerações anteriores, bebendo da crítica epistemológica das obras de Michel Foucault e Michel de Certeau, irão quase que imediatamente descartar esta e outras noções que remetem ao campo mais abstrato do pensamento. Ficarão em evidência, então, as práticas culturais. A partir de uma análise mais cuidadosa das evidências empíricas, restituem-se as diferentes práticas cotidianas do passado e, através delas, entendem-se melhor as diferentes racionalidades por trás delas e que nos legaram os documentos históricos.

Este livro de Dubois é muito bem escrito e seu argumento é muito bem encaixado no quadro teórico-metodológico ao qual se refere. Todavia, sua coerência com seu próprio campo não o faz uma contribuição historicamente adequada aos estudos voltados ao século XVI e às novas formas culturais que surgiram então. Lê-lo tardiamente, por desencargo de consciência, foi um bom exercício de crítica: não fornece ajuda empírica ou teórica às minhas pesquisas, mas me ajudou como pesquisador no imprescindível exercício de ler as coisas com as quais não concordamos, entendê-las mesmo assim e criticá-las por isso mesmo.
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