Luis 26/08/2010
A outra face da MPB.
A música do rádio de pilha que inundava a área de serviço, fazendo a trilha sonora dos sonhos acalentados por milhares de empregadas domésticas Brasil afora, no auge da Ditadura militar, seguramente, nunca esteve entre as preocupações dos nossos estudiosos e teóricos da música popular.
A sigla MPB, tal como foi consagrada, não abrigava a música das feiras, dos circos e dos programas de auditório. Era exclusiva da elite proprietária dos modernos aparelhos estereofônicos, frequentadora das casas noturnas das áreas nobres, ouvinte dos cassetes dos carros de luxo. Paulo César de Aráujo, o biográfo censurado de Roberto Carlos, estreiou em livro contando a saga dos cantores e compositores da chamada música brega. Através da vida e da obra de Odair José, Waldick Soriano, Nelson Ned, Evaldo Braga, a dupla Dom e Ravel, Carmen Silva, Agnaldo Timóteo, Fernando Mendes, Benito de Paula e, principalmente, Paulo Sérgio, temos , pela primeira vez, uma aproximação despida de preconceitos entre o mundo acadêmico e a face obscura da música brasileira.
Paulo César promove um verdadeiro inventário do universo do disco popular entre 1968 e 1980, expondo, inclusive, insuspeitas subversões dos "bregas" em relação à realidade política e social do Brasil de então. Uma realidade que só chegou à intelectualidade pelo viés das classes mais abastadas, que desqualificavam qualquer inciativa artística que não se abrigasse sob o seu guarda chuva cultural.
Não se pode entender um país sem entender seu povo, suas manifestações, seus valores, sua música.
Ler "Eu não sou Cachorro Não" pode ser um bom começo.