João Pedro 24/10/2024Ah, as reviravoltas machadianas...Mais um de Machado de Assis para a conta. Ele que é um dos meus escritores preferidos. Comecei essa leitura, porém, com expectativas dosadas. Apesar de ser um romance machadiano e de carregar, só por isso, um selo de qualidade, eu sabia de antemão que "Helena" (1876) fora escrito e publicado antes das obras mais famosas do autor. Faz parte de sua chamada fase romântica.
Fico contente em anunciar que minhas expectativas foram superadas. "Helena" é um romance que foi primeiramente publicado em formato de folhetim. Como uma novela (e parece um dramalhão novelesco mesmo), capítulo por capítulo foram publicados no jornal da época e, só depois, o livro foi editado em um volume único.
Com ares de um clássico romance romântico, acompanhamos a chegada da protagonista, Helena, na casa da família do Conselheiro Vale, após seu falecimento. O detalhe: Helena é uma filha reconhecida postumamente pelo conselheiro, em seu testamento, que trazia como disposição de última vontade seu desejo de que ela não apenas fosse reconhecida legalmente como filha – com direito a parte da herança e tudo o mais -, como também que fosse integrada ao seio familiar, que consistia tão somente em Estácio e Dona Úrsula, irmão e tia de Helena, respectivamente.
Apesar da premissa interessantíssima, passei boa parte da leitura acreditando se tratar apenas de um romance água com açúcar que giraria em torno de casamento. Ansiei por algum tipo de reviravolta machadiana e já havia quase me dado por vencido quando as coisas começam a mudar perto do final do romance. E como mudam! "Helena" não é nada do que aparenta ser.
Temos aqui um trágico dramalhão de Machado de Assis que não deixa nada a desejar às tragédias de Shakespeare. É imprevisível. Uma pancada na alma fazendo as vezes de romance de folhetim. Recomendo muito a leitura.