Cris 09/06/2024
Que eu não morra antes de ler tudo desse cara aqui ...
Risco hoje de minha listinha de "Livros a serem lidos do Machado de Assis" a 6ª obra. Ainda não sei se alguma delas será melhor que 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' ou mais conhecida e discutida que 'Dom Casmurro', no entanto, a certeza que fica é de que esse cara escreve como ninguém, e, longe de mim arrotar superiodade, é um tanto decepcionante não encontrar tamanha excelência assim em diversos outros livros .... os clássicos nacionais em primazia. Até por que, Machado de Assis se esforçou e estudou demais para chegar onde chegou, não nasceu em berço de ouro e nem era branco, se assim posso destacar, sendo assim, por que quase nenhum autor de sua época é tão maravilhoso quanto? Claro que me baseio em uma opinião minha e ninguém precisa concordar comigo, mas sim, para mim Machado de Assis é o melhor escritor brasileiro de TODOS os tempos. E sabendo o momento correto de ler seus livros, dificilmente, uma leitura fica abaixo da expectativa, claro que há diversas dificuldades a nível de entendimento de escrita e afins, entretanto, estamos falando de uma literatura clássica, né? Não tem muito para onde correr rs.
'Helena' foi publicado originalmente em folhetins pelo jornal O Globo em 1876 e narra a história de uma filha bastarda residente do bairro Andaraí ( RJ) que teve sua vida mudada assim que o pai, um homem muito rico, falece inesperadamente deixando-a bem amparada em seu testamento. No documento dizia que a jovem deveria morar em sua residência e dividir a enorme propriedade com o meio-irmão Estácio e sua tia D. Úrsula, quem por ela desde o princípio já nutria um certo incômodo por motivos óbvios rs.
Com o decorrer dos capítulos, pude perceber que além de muito inteligente e bonita, Helena era prestativa e muito carinhosa, e o cuidado dirigido a todos não passou despercebido do irmão que, sem nem perceber, acabou se apaixonando por ela. Isso mesmo que você leu, Machado de Assis me inventou um enredo, aparentemente, incestuoso e eu quase surtei com isso ihihih. Mas calma, o plot twist dessa história se prova ainda melhor e o que inicia de forma intimista ou arrastada para os mais apressadinhos acaba colapsando mais uma vez em um lugar muito próximo das peças de Shakespeare devido o seu dramático e triste fim. Gente, leiam pois vale cada página. ?
Escolhi este livro por fazer parte da 1ª fase do Machado, e, recentemente me propus a ler suas primeiras obras ainda pertinentes ao movimento do Romantismo e, embora não tenha como colocar o autor em nenhuma caixinha, é visível que mesmo escrevendo uma determinada classe literária, o Realismo corria em suas veias desde muito cedo. Ainda preciso ler 'Iaiá Garcia' e definir o meu livro preferido da fase inicial, continuo achando que 'A mão e a Luva' é o melhor apesar das pouquíssimas páginas. Bem, vamos ver como ficará o meu pódio daqui para frente pois não pararei tão cedo de lê-lo. ?
Resenhar Machadão e não enaltecer as críticas sociais e políticas tecidas em suas histórias é algo imperdoável, até aquele leitor mais avoado consegue notar as azedas "canetadas" machadianas. E em 'Helena' uma cena muito pontual trouxe à tona um período cruel de nossa história que foi a escravidão. O livro em si não é abolicionista, mas, deu o seu recado deixando no chinelo um outro bem conhecido que traz uma escrava chamada Isaura que só se deu bem na vida por ser branca... cof cof. E isso me leva ao princípio de tudo: a escrita perfeita! Narrativa esta tão pessoal que traz voz e rosto do criador em todos os parágrafos e entrelinhas não importando se o livro foi escrito em 1ª, 2ª ou 3ª pessoa.
E é isso, tudo o que eu tentar falar não fará jus a esse mestre da Literatura, será que o chamam de bruxo por isso? Por fazer feitiço de perfeição em suas histórias? Só me resta não morrer antes de ter em minha estante toda a coletânea de suas obras. E foi me forçando a ler e a reler os seus livros, que hoje exalto quem Machado de Assis foi e é!
(...) Tem razão, disse Helena: aquele homem gastará muito mais tempo do que nós em caminhar. Mas não é isto uma simples questão de ponto de vista? A rigor, o tempo corre do mesmo modo, quer o esperdicemos, quer o economizemos. O essencial não é fazer muita coisa no menor prazo; é fazer muita coisa aprazível ou útil. Para aquele preto o mais aprazível é, talvez, esse mesmo caminhar a pé, que lhe alongará a jornada, e lhe fará esquecer o cativeiro, se é cativo.
É uma hora de pura liberdade.