Izabella.BaldoAno 02/05/2023
Helena é minha segunda experiência lendo Machado - havia lido, antes dele, O Alienista - e, só de ter tido duas experiências tão distintas, já estou super curiosa pra ler muito mais do autor. o que eu não esperava, depois de ler O Alienista, era me deparar em Helena com uma escrita tão romântica e, ao mesmo tempo, tão coesa em relação à experiência anterior. são livros de Machados diferentes mas ao mesmo tempo do mesmo Machado.
Helena é uma história que parece extremamente tradicional mas ao mesmo tempo muito disruptiva. há a narrativa da família e da sociedade burguesa tradicionais brasileiras do século XIX, mas há também o descortinamento das fragilidades dessas estruturas. cada personagem aqui é também, para além de um indivíduo, a representação de um arquétipo social. a única que parece escapar dos estereótipos é a própria Helena, uma personagem misteriosa em diversos aspectos.
uma importante questão a se levar em consideração é o fato de o livro ter sido lançado capítulo por capítulo em folhetins, sempre com um gancho no fim de cada capítulo pra instigar curiosidade e fazer valer a pena comprar a edição do dia seguinte e dar continuidade à leitura. e aqui Machado foi muito perspicaz, porque, mesmo depois que o livro adquire outro formato e passa a ser vendido por inteiro, esses ganchos são elementos muito importantes do enredo e não dá vontade de parar de ler.
amei a experiência de ter lido Helena mas, infelizmente, os últimos 10 ou 15% do livro não funcionaram bem pra mim, quando o ritmo da narrativa mudou bastante. e a experiência com literatura também me faz perceber que uma história não perde necessariamente seu impacto porque houve um ou outro elemento que não me agradou - mesmo que esse elemento seja algo que consideramos tão importante como um final. vou guardar por muito tempo muito do que senti com essa leitura.
"sobretudo, peço-lhe que escreva em seu espírito esta verdade: é que sou uma pobre alma lançada num turbilhão".