thenecrocorpse 07/09/2024
Resenha sem Spoiler e com Spoiler(separadamente)
Resenha sem Spoiler:
Sem antes ter conhecido a existência desse livro, eu não imaginava o que estava perdendo. Bebendo de rios, sem saber da fonte dessa água cristalina.
O colecionador é um exemplo intocável de como trabalhar em personagens, pontos de vista, assuntos sociais, amor, filosofia... Tudo dentro de uma ficção assustadora.
Começando por Clegg, o protagonista ou antagonista deste romance. Ele é uma casca, um mistério que parece muito interessante apesar de perverso, mas ao começar a conhece-lo, percebe-se que ele não é muito mais do que um homem solitário, egoísta e maluco.
Agora sobre Miranda, ela é o que menos se espera. Ela é real, algo que Clegg nunca poderia controlar. Tudo que ele conhecia era uma Miranda que existia em sua mente, a perfeita e bela borboleta rara que não poderia bater suas asas fora de um jarro de vidro, que ele possui.
Miranda é inteligente, é uma artista. Ela sim sabe apreciar o mundo e as pessoas que a encantam. Mas como qualquer pessoa em uma prisão, ela está desesperada.
E apesar da história ser mais que apenas os dois personagens, ela vive sem precisar de mais nada que os dois. Durante todas as 319 páginas, você não quer desgrudar os olhos de cada uma página, porque ver como o nosso "Caliban" e Miranda escrevem sobre suas perspectivas é tão bizarro, quanto lindo.
*SPOILERS:*
As decisões tomadas por Clegg vão se transformando tão naturalmente que te faz sentir como um terapeuta, entrando na mente de um homem fora de si, da forma mais delicada possível. Isso é delicioso de ler, é fluído. Cada parte do quarto escuro que é a mente de "Caliban".
Quando chegamos no diário de Miranda, tudo muda. Todo aquele romance, aquela beleza por trás de cada frase escrita por Clegg, se torna desespero e asco. Como eu não enxergava isso? Clegg é um monstro bizarro, como a forma como ele se via conseguiu me fazer ver sua perspectiva de forma mais delicada? são perguntas que me fiz ao chegar nas escrituras de Miranda, uma vitima.
Sobre amor, Clegg nunca amou Miranda. Ela é um troféu, uma conquista. É um êxtase possui-lá. Quando ele a perde, não sente a dor de um amor perdido, Ele sente o vázio. Para preencher esse vázio, ele procura uma outra borboleta para sua coleção, uma menos inteligente que não escape de suas mãos, uma mais comum. Porque sabia que nada seria como Miranda para ele.
Para finalizar me sinto obrigada a destacar as questões levantadas por Miranda. A arte, politica e filosofia que ela trás para as conversas rotineiras com Clegg, são questões muito interessantes. Ela estava falando sozinha, porque ele não entendia nada disso. Nas palavras dela após perceber isso: "Não posso suportar idiotas como Caliban, com seu grande fardo de pequeneza, egoísmo e maldade de todos os tipos."