Fabio 23/08/2023
Coleciona tudo e um pouco mais...
O Colecionador, aclamado suspense psicológico escrito pelo inglês, John Fowles em 1963, torna-se Best-seller mundial pouquíssimo tempo após a sua publicação, alcançando a lista de livros mais vendidos da Europa e dos Estados Unidos, naquele ano, o que levou a ser adaptado para os cinemas em 1965.
O romance de Fowles é estruturalmente dividido em quatro partes, sem haver partição de capítulos (o que acaba cansando um pouco a leitura). Narrado em primeira pessoa, contém ambas a perspectivas, do vilão Frederick Clegg e da vítima Miranda Grey.
Quando narrado na perspectiva de Clegg (que para mim a é melhor parte do livro) o autor nos mostra um intrincado e detalhado relato dos pensamentos íntimos e obsessivos do vilão, a organização dos seus planos e ideias, e os devaneios psicóticos do personagem, que interferem o tempo todo em suas relações interpessoais.
A seção do livro contada do ponto de vista de Miranda Grey, é apresentada por meio epistolar, relatados em forma de diário/carta, narrando seus sofrimentos, surtos, e pensamentos mais íntimos.
A primeira parte, do livro narrada por Clegg, é o ponto alto da obra. Numa narrativa fluida, envolvente e cheia se suspense, o autor nos coloca dentro da cabeça de um sociopata fanático, em busca de um desejo doentio, que culmina no encontro forçado entre algoz e vítima, e as consequências deste encontro.
A segunda parte do livro, entretanto (infelizmente), é lenta, confusa e arrastada, em meio aos devaneios de Miranda, quando o autor sem aviso prévio, insere uma "penca" de personagens, que em nada contribuem com o enredo principal, quebrando completamente o ritmo da trama e prejudicando o desenvolvimento da ideia principal do livro.
Nas duas últimas partes (bem curtas, por sinal) retornamos à cabeça de Clegg, e o autor nos entrega um final, sensacional, apesar de previsível e encerra no melhor estilo, "continua... "
O Colecionador, está repleto de discussões políticas, filosóficas, sociais e psicológicas, que abrangem do sistema britânico de castas, ao comunismo; do conceito existencialista aos preceitos dos “mundos tragicamente absurdo” de Kafka, e Beckett; do insano ao lucido; do sistema patriarcal ao feminismo; e nos leva a uma reflexão sobre o Amor, Poder, Criatividade e Compaixão.
Confesso que o estilo de escrita de John Fowles me surpreendeu positivamente quando, na perspectiva do sociopata Clegg (digno dos melhores thrillers psicológicos que já li), e me decepcionou, bastante, quando, a perspectiva da Miranda. Pois enquanto a primeira, instigava, num ritmo rápido, claro e preciso, me fazendo devorar cada página, ansiando pela próxima; a segunda, foi arrastada (quase parando), e eu me forçava a ler para alcançar a meta de leitura diária.
Vale mencionar que O Colecionador está repleto de referências a obras clássicas da literatura, música, e artes plásticas, que enriqueceram toda a leitura, mesmo nos momentos mais lentos e prolixos
Em suma, O Colecionador é um bom livro, com seus altos e baixos, mas, longe das expectativas iniciais.
Antes de encerrar, não poderia deixar de agradecer imensamente aos meus companheiros de LC: @ BiancaHF, @Carolina159, @EdinhoOlinda, @Nubia.Cortinhas, @Rogeriacb e @Vanessa.C, pela paciência e por todo incentivo durante a leitura as discussões em grupo. Muitíssimo obrigado!
Do mais, recomendo aos amantes de thrillers psicológicos, apaixonados por literatura inglesa, e aos amantes de arte, música, literatura e filosofia.