spoiler visualizarSabrina Araújo 21/01/2022
Perturbador!!!!
¤ "Se você me pedir para parar de colecionar borboletas, eu paro. Faço tudo o que você me pedir."
¤ "Menos me deixar voar."
A última vez que um livro me deixou pensando por dias, foi quando li Verity. E com este não vai ser diferente.
O Colecionador traz a história de Frederick, um funcionário público apaixonado por insetos, um verdadeiro colecionador, principalmente de borboletas. Sua vida modifica-se ao colocar seus olhos em uma garota, que logo torna-se sua maior obsessão, e então, a partir daí, Frederick, não consegue dedicar-se a absolutamente nada que não envolva perseguir, anotar, ver e ficar a par da rotina da mulher pelo qual ele nunca havia trocado uma palavra.
Com o passar dos dias, as vontades de Frederick modificam-se para o lado mais sombrio possível, ao ponto de fantasiar sequestrar a garota ou ser o seu salvador em um ataque. Desde o surgimento desses constantes e perversos pensamentos, Frederick não pensa duas vezes antes de comprar uma cabana distante o bastante de olhos alheios, para que assim, pudesse realizar seu desejo obsessivo de ter a garota para si. E ela, que até o trágico dia, nem imaginava que estava sendo perseguida e que um homem que ela jamais havia tido contato, conhecia cada um de seus passos.
Ler esse livro foi como estar na mente de um verdadeiro maníaco. Ele é problemático, agonizante, e te faz passar muita raiva. Tirando os capítulos narrados pela garota, Miranda, o restante é no ponto de vista do Frederick. Foi inevitável não encarar esse livro como manipulatório ao ponto de fazer muita gente sentir pena do personagem, quando o ponto é realmente o destaque de como funciona a mente de alguém como ele, o que acabou tornando Frederick assustadoramente real, já que pessoas como o ele tendem a justificar seus péssimos atos usando os pontos tristes de suas vidas, entrando em modo depreciativo com a mais pura finalidade de induzir a pena.
Já a representação da Miranda, imagino que o autor quis destacar a forma ilusória que Frederick havia criado para si quando se tratava dela, a imaginando como uma mulher perfeita, com expectativas machistas nojentas, e que ela não tinha outro modo de agir a não ser a que ele mesmo havia construído em sua cabeça. A modificação da personagem foi um balde de água fria, justamente porque até então, o leitor via Miranda através da narração de Frederick, a única coisa que temos - até certo ponto, já que a narração da Miranda é enorme - é a maneira em como Frederick a vê, e que a todo momento justificava seu comportamento de maneira "romantizada", associando tudo como rebeldia momentânea sem um motivo aparente, e não pelo fato de ele a ter sequestrado.
O Colecionador é aquele tipo de livro que definitivamente entra na lista de: ou você ama ou odeia profundamente. Ele me prendeu bastante justamente por ser mais acostumada a livros com conteúdo sensível, MAS ele não é de forma alguma o tipo que se sai por aí recomendando para qualquer pessoa, pois possui diversos gatilhos, o tornando desconfortável de verdade. É aquela leitura com personagens odiosos, e pela primeira vez posso dizer que tenho um livro onde todos os personagens são extremamente detestáveis haha.
O autor mostrou toda a visão obsessiva de Frederick e tirou o que os leitores esperavam de uma vítima (mas para ser mais clara, ele se perdeu completamente na construção da personagem no decorrer das narrações). John deu a Miranda um modo de agir completamente inesperado, porém, com um comportamento compreensível devido a sua situação. Mas a personalidade da personagem se afundou no modo insuportável e chatice extrema, permanecendo assim no decorrer do livro, tornando-a muito desagradável, sendo possível até mesmo sentir aquela dose de culpa por acabar odiando a personagem, o que faz com que tudo seja ainda mais difícil de digerir até o fim.