G. X. Vitoriano 16/01/2013
Embora Herman Melville tenha obtido grande sucesso no início de sua carreira, sua popularidade foi decaindo ao longo dos anos. Faleceu quase completamente esquecido, sem conhecer o sucesso que sua mais importante obra, o romance Moby Dick, alcançaria no século XX. O livro, dividido em três volumes, foi publicado em 1851 com o título de A baleia e não obteve sucesso de crítica, tendo sido considerado o principal motivo para o declínio da carreira do autor.
O nome da obra é o do cachalote enfurecido, de cor branca, que havendo sido ferido várias vezes por baleeiros, conseguiu destrui-los todos. Originalmente foi publicado em três fascículos com o título de Moby Dick ou A Baleia em Londres em 1851, e ainda no mesmo ano em Nova York em edição integral. O livro foi revolucionário para a época, com descrições intricadas e imaginativas das aventuras do narrador - Ismael, suas reflexões pessoais, e grandes trechos de não ficção, sobre variados assuntos, como baleias, métodos de caça a elas, arpões, a cor branca de Moby Dick, detalhes sobre as embarcações e funcionamentos, armazenamento de produtos extraídos das baleias.
Os detalhes contados com o realismo e propriedade de um escritor que viveu em barcos baleeiros são capazes de transportar o leitor ao ambiente descrito e suas sensações.
O romance foi inspirado no naufrágio do navio Essex, comandado pelo capitão George Pollard, quando este foi atingido por uma baleia e afundou.
Em um texto que ficou famoso, Jorge Luis Borges definiu Moby Dick como um romance infinito — uma narrativa que, página a página, se amplia até superar o tamanho do cosmos. Quem já enfrentou as quase 600 páginas da extravagante caça à baleia branca empreendida pelo obsessivo capitão Ahab a bordo do barco Pequod, há de concordar com o escritor argentino. Mas não é apenas por conta da extensão física do épico do americano Herman Melville que se pode vislumbrar o infinito. A vastidão é encontrada na quantidade de interpretações que o romance foi capaz de engendrar, tão ou mais extravagantes que a própria obra. E a história acidentada de Moby Dick, de sua inspiração à futura popularidade que conquistou no século 20, parece não pertencer ao tempo e à lógica regulares dos mortais.
Poucos livros são como Moby Dick — e pode-se dizer, com segurança, que nenhum outro livro percorreu um caminho tão tortuoso, rico e múltiplo, a ponto de se perder em infinitas interpretações. Não à toa, Borges definiu como um labirinto sem centro esse cosmos para onde o romance se projeta. É claro que Moby Dick é um símbolo. De quê, volta a perguntar D. H. Lawrence. Desta vez, ele mesmo responde Duvido que mesmo Melville saiba com precisão. Isso é o melhor de tudo. É sempre interessante perceber como um texto consagrado mundialmente se relaciona com outras linguagens. Adaptações costumam ser uma forma de expressão artística que agrada o público em geral e, em verdade, são em grande parte responsáveis pela popularização de muitas grandes obras.
Ao longo dos anos, o romance foi adaptado para o cinema, rádio, teatro e televisão. Motivou o maior quadrinhista da história, Will Eisner, a recriá-lo em quadrinhos e essa foi apenas uma das várias adaptações que a obra teve nesse meio. No mundo da música, diversos artistas dedicaram-se a escrever canções baseadas nessa envolvente narrativa. Orson Wells encenou no teatro uma versão de Moby Dick em 1955 que, apesar de ter sido filmada, é considerada hoje uma obra perdida.
Gregory Peck elevou a atuação a outro nível em sua época, ao desempenhar o papel do Capitão Ahab em um filme do diretor John Huston, de 1956. Bandas de rock como Demons and Wizards basearam canções de seus álbuns no texto original e a famosa empresa Hanna-Barbera produziu um desenho de sucesso em 1967, que foi exibido nos EUA pela rede CBS.
O artista de música eletrônica Richard Melville Hall, que goza de um parentesco com o autor do livro, adotou o nome artístico Moby, tanto pela referência, quanto pela homenagem.
Moby Dick não é uma obra de aventura, mas sim uma jornada complexa que aborda temas de natureza distinta, como metafísica e psicologia. É uma obra realista que descreve em detalhes a dura vida do homem do mar, as embarcações, a pesca e as relações que os embrutecidos marujos travavam entre si. É o registro do comportamento de uma época de valores tão distantes dos nossos, mas é também algo que vai além disso tudo. Os símbolos e metáforas do texto contrastam com sua linguagem estilizada, o que envolve o leitor numa espiral que ora ascende, ora decai, tal qual à obsessão do próprio Capitão Ahab.