Daniel.Alcantara 30/04/2022
Culpando a mulher
MacBeth por William Shakespeare
Tradução de Beatriz Viégas-Faria
Editora @lepmeditores
Título original: MacBeth
Outra peça de Shakespeare, mas uma que fala de outros atributos do coração humano. Agora o dramaturgo fala de ganância e corrupção. Se em Romeu e Julieta os assassinatos se travam por paixão, em duelos, em Macbeth os assassinatos se travam por poder, seja para conquista-lo, seja para mante-lo.
Acredito que a esta altura, Shakespeare já tenha lido O Príncipe do Maquiavel (1513), ou talvez o início do século XVII tenha abordado de maneira mais sombria seu coração.
Algo que chamou-me atenção nesta releitura é que, sendo ele escrito em uma fase de acumulação pré-capitalista, vão se desenhando as bases do modelo capitalista. Em Caliban and The Witch de Silvia Federici, temos uma explanação teórica sobre as marcas de formação do machismo sistemático dentro desta nova dinâmica político-economica que aparece na última peça shakesperiana, A tempestade.
Já em Macbeth, nesta releitura, enxerguei ali também algo semelhante. As bruxas, personagens femininos, vem para enganar o coração fiel e leal de Macbeth. E Lady Macbeth, a grande vilã, é ela quem trava toda a estratagema para o reigicidio e o Coup d'Etat, para que sejam cumpridas as profecias das bruxas.
Ou seja, nenhuma culpa da ganância e da infidelidade cometidos no livro ficam como autor o próprio protagonista. Este fica sempre na inércia do movimento. Falando para a esposa sobre a profecia, deixando ela planejar como concretizar. Um coração tão puro, que ao trair seu fiel amigo Banquo, assassinando-o, sente-se tão culpado que vê ainda seu fantasma passeando pelo castelo.
O coração humano, criador de coisas tão belas, aqui mostra sua mais feia face.