Coruja 10/06/2013D. Mãe gosta de repetir sempre uma frase: “da vida, só o que a gente tem certeza é a morte” – e eu me peguei pensando muito nessa afirmação enquanto lia Sinal e Ruído, que é toda ela uma história sobre a morte, mas também sobre aquilo que fazemos ao ter a certeza dessa morte.
Sim, sabemos quase que desde sempre que nossos passos nos levam inexoravelmente ao fim, mas de uma forma geral, não pensamos nesse fim e desperdiçamos uma vida inteira correndo atrás de coisas que mais para frente julgaremos supérfluas.
É o que ocorre com o protagonista dessa graphic novel, um diretor de cinema que descobre estar com câncer, e ter apenas alguns meses de vida. Não há o que fazer, o tratamento seria algo apenas paliativo e ele decide fugir dessa realidade e trabalhar com aquele que será seu último roteiro, o último trabalho de uma carreira, a obra que ele quer deixar como seu legado.
O roteiro é uma história sobre o fim do mundo, no final do ano de 999 d.C. – e isso faz ainda mais sentido dentro da história porque ela está acontecendo pouco antes da virada do milênio, numa das inúmeras ocasiões em que se falou sobre a possibilidade do apocalipse.
Enquanto trabalha naquele que há de ser seu último projeto, somos levados juntos ao protagonista a reconhecer que o mundo acaba todos os dias para alguém, o fim do mundo é o fim da nossa existência. Não há nada de tão catastrófico ou tormentoso: o mundo termina, como diria T. S. Elliot, não numa explosão, mas num sussurro.
O texto e a arte aqui se complementam maravilhosamente; Gaiman está soberbo no roteiro e o trabalho do McKean é exatamente aquilo que a história pede, realista, pungente. Se nada mais esses dois tivessem produzido, Sinal e Ruído poderia ser aquela história, aquele trabalho que marca um legado; uma obra-prima em meio a todo o ruído a que somos constantemente submetidos.
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)