Gica Brombini 24/02/2023
O CONCEITO de uma nação sem caráter & A VANGUARDA CRÍTICA dentro de Macunaíma.
Devo começar admitindo que li esta obra, única e exclusivamente, pela universidade.
Sou estudante de Letras Vernáculas, e mesmo que tenha negligenciado um contato anterior com Macunaíma, eu sabia que agora não poderia fazer o mesmo descaso - afinal, meus estudos acadêmicos irão influenciar diretamente meu papel profissional na docência. É imprescindível o fato de que esta história é um grande marco da literatura brasileira e que, justamente por isso, é considerada um clássico.
Seguindo a partir disso, explicarei brevemente sobre a minha avaliação e experiência pessoal com o livro, a qual é, em muitas partes, desvinculada da minha relação de estudo e pesquisa da obra de Mário de Andrade.
Minha experiência de leitura foi puramente chata e enfadonha. Esta não é, de forma alguma, uma narrativa fácil de ser lida, e a escrita também a torna desafiadora. A personagem principal, Macunaíma, "o herói sem nenhum caráter", é exatamente isso: um humano com atitudes extremamente repreensíveis e desgostosas. Não há nada que me agrade nas falas, ações ou escolhas do personagem. É claro que, em um panorama geral sobre gostos literários, isto é completamente compreensível. Não nos apegamos e nem nos importamos muito com o que o herói irá viver. As aventuras, por assim dizer, são confusas, "sem pé nem cabeça", e não apresentam um propósito direto para a formação de Macunaíma - até porque, sua essência já está moldada; não há caráter, muito menos mudanças/transformações, apenas persistência no que já é intrínseco nele: a falta de uma moral pessoal e a malandragem do "jeitinho brasileiro".
Porém, entrando nos aspectos de análise literária e da relevância desta obra, tanto para o contexto de sua criação, quanto para o reflexo e a marca que viria a ser na história da literatura brasileira, Macunaíma é um CLÁSSICO. Macunaíma não é fácil de ser compreendido. É uma história recheada de metáforas e analogias indiretas sobre a formação da nacionalidade, da cultura, da arte e da política brasileira.
Em seu contexto de produção, temos artistas de "Vanguarda", os quais buscavam uma identidade nacional desvinculada dos modelos clássicos europeus e ocidentais, e que tentavam recuperar e representar através das mais diversas formas de arte, a originalidade do nosso país. É claro que, essas inovações artísticas vieram diretamente vinculadas a movimentos de crítica sobre muitos aspectos e camadas da sociedade do século XX no Brasil.
Gostaria de frisar aqui que, esta explicação é muito simplifica e nada aprofunda; estou dando aqui apenas um panorama geral do que ocorria no momento histórico em que Macunaíma foi escrito.
Retomando... Justamente pelos motivos citados acima, é evidente que o livro de Mário de Andrade não foi escrito para um público leitor burguês, e seu romance não pretendia fazer parte da massa do mercado. Macunaíma é um protesto. Toda a história é puramente um movimento, um conceito artístico a ser explorado e escancarado, estando assim, muito longe da função "entretenimento" ou “agrado”.
Esta é uma obra crítica, extremamente elaborada e consciente sobre o que quer relatar. A escrita, a linguagem, a narrativa e o enredo seguem diretamente um propósito de manifestação - e nesse sentido, a cada análise e contato com textos teóricos que exploram minuciosamente a complexidade dessa história, só podemos chegar a uma conclusão: Mário de Andrade foi genial e "cirúrgico" com essa criação, o que tornou Macunaíma um retrato fiel sobre as naturezas contraditórias e sobre a formação miscigenada do povo e do caráter brasileiro (em todos os âmbitos possíveis).
Portanto, a minha nota aqui no Skoob é uma mescla da minha experiência pessoal, que foi longe de ser agradável e prazerosa em entretenimento, junto com a minha inegável admiração por todas as nuances que constituem a criação de Macunaíma.