spoiler visualizarStelamaris.Roberto 25/01/2022
Buick 8
2ª leitura de 2022: Buick 8, de Stephen King (edição da biblioteca de Bragança Paulista)📚📖
Depois da morte do policial Curtis Wilcox, Ned, seu filho de 18 anos, começa a visitar a delegacia onde o pai trabalhava. O sargento Sandy Dearborn, melhor amigo de Curtis no esquadrão, decide se aproximar mais do rapaz e acaba por compartilhar com ele uma estranha história, a história do Buick Roadmaster, o Buick 8.
“Era um belo Buick azul-noite, antigo, tinha a grande grade cromada e as vigias nas laterais (...) A pintura brilhava, o para-brisa brilhava, a barra cromada da lateral brilhava (...) O estofamento era marron, assim como o tecido do teto...”
Incluí Buick 8 em minha TBR deste ano por recomendação do Bruno, do canal O Navegando, e por curiosidade pela sinopse mergulhei nesta misteriosa história envolvendo um Buick Roadmaster que simplesmente é abandonado em um pequeno posto de gasolina. O condutor, um homem vestido de preto, com uma capa anacrônica e um rosto disforme desaparece atrás do edifício e nunca mais é encontrado. O que a princípio parecia apenas a fuga de um homem deixando seu carro para trás, se torna um dos mais absurdos e medonhos segredos testemunhados pelo Batalhão D, da polícia estadual da Pennsylvania.
Os policiais do Batalhão D rebocam o carro e o guardam no galpão B, no pátio da corporação. Logo percebem que aquele não era um carro qualquer, algo nele era e estava muito errado, pois se recuperava sozinho de qualquer avaria, era invulnerável à sujeira e a arranhões de toda espécie e seu motor não funcionava. Era um mistério que se tronaria ainda mais sobrenatural e funesto. Dentro do galpão B a temperatura baixava bruscamente enquanto o Buick expelia uma profusão de luzes, cujas cores eram desconhecidas. Do interior de seu porta-malas seres alóctones, exóticos e repugnantes alcançavam nossa dimensão, seres alienígenas, incoerentes e inconcebíveis pela mente humana.
“Cheguei à aberração, baixei a picareta e a ponta entrou no meio dela. Ela gritou e se jogou na porta de enrolar. Mister Dillon ficou livre e recuou, arrastando a barriga no chão. Latia de raiva e uivava de dor, tudo misturado. Atrás da coleira tinha uma queimadura no pelo. Metade de seu focinho estava chamuscado. Como se o tivesse enfiado numa fogueira. Dalí saíam pequenas espirais de fumaça. O ser encostado na porta de enrolar levantou aquela mangueira cinzenta do peito e aquilo eram mesmo olhos incrustados nela. Olhavam para mim e eu não aguentava. Girei a picareta, baixei a parte cortante. Ouviu-se um ruído de algo rasgando, e parte da mangueira rolou no chão de concreto. Também acertei a região do peito. Nuvens de uma substância cor-de-rosa semelhante a espuma de barbear saíram em turbilhão do buraco, como se sob pressão. Ao longo da tromba cinza, refiro-me à parte amputada, aqueles olhos giravam espasmodicamente, parecendo olhar para todos os lados ao mesmo tempo. Deles saíram gotas claras de um líquido, o veneno daquilo. A criatura gritou. Em minha cabeça, ouvi o grito tão alto que parecia que meus olhos iam saltar para fora das órbitas, como saltam os olhos de uma rã quando se agarra e se aperta seu corpo molengo.”
É notável as influências lovecraftianas em Buick 8, o autor usou elementos anatômicos de algumas das criaturas cósmicas mais aterrorizantes que compõem os chamados Mitos de Cthulhu, criadas por Lovecraft, mesmo que em um nível moderado.
Buick 8 para mim foi uma leitura razoável, e a classifiquei com três estrelas no Goodreads e aqui no Skoob, confesso que não foi uma das melhores narrativas do autor, inclusive este livro divide opiniões, entre os que amam e os que odeiam a história. Mesmo não sendo um de seus melhores livros, um ponto positivo da narrativa esteve na abordagem cenográfica que o autor fez da cultura Amish, grupo religioso cristão, conhecido por seus costumes conservadores e arcaicos.