spoiler visualizarDuarda14 22/02/2024
Ânsia de viver
Ler Madame Bovary foi imaginar a vida de uma mulher burguesa não tão luxuosa do século XIX. Foi refletir sobre os desejos que significavam tudo para um ser limitado, daquelas mulheres que o sentido da vida era o casamento.
"Ela desejava um menino; ele seria forte e moreno, ela o chamaria de Georges; e a ideia de ter um filho homem era como a esperança de revanche por todas as impotências passadas. Um homem, ao menos, é livre; pode percorrer as paixões e os países, transpor obstáculos, tomar gosto pelas alegrias mais longínquas. Mas uma mulher é impedida continuamente. Ao mesmo tempo inerte e flexível, tem contra si as fraquezas da carne com as dependências da lei."
E ela se afogou em todos os desejos que a sua desilusão provocou, por não amar o marido e os frutos desse relacionamento. O desejo de viver a vida dos seus romances lidos e da pouca experiência vivida foi a corroendo tanto, que a impulsividade tomou conta de todas as suas ações e ela foi quem realmente controlou a própria vida, hipnotizada por tudo o que ela sentia perder na sua existência, se confiando a todas as promessas e sentimentos alheios, em certa mendida também era ingênua.
"O amor, assim acreditava, deveria chegar de supetão, com grandes estilhaços e clarões?um furacão dos céus que cai sobre a vida, que a perturba, arranca as vontades como folhas e leva o coração inteiro para o abismo."
Isso significava a vida, o desejo de viver foi depositado com tanta ânsia em amores, em amantes, que isso só mostra o quanto os sonhos e perpectiva da felicidade era limitada nesse momento da obra. Mas ela sabia, na minha interpretação ela sentia, mas não queria enxergar, não queria acreditar, desejava tentar a continuar amando mesmo quando o sentimento ia se esvaindo, por consequência isso foi inesquecível e sufocante para quem compartilhava da sua ânsia de ser livre, romântica e cheia de luxúria.
"Então, seguro de ser amado, não se incomodou e, sem perceber, seu comportamento mudou."
O desejo de ser liberta aprisionou ela em si.
"os discursos exagerados que escondem afeições medíocres; como se a plenitude da alma não transbordasse, às vezes, pelas metáforas mais vazias, pois ninguém, jamais, pode dar a medida exata de suas necessidades, nem de suas concepções, nem de suas dores, e que a palavra humana é como um instrumento rachado, onde tocamos melodias para fazer dançar os ursos, quando gostaríamos de enternecer as estrelas."
Enfim, a escritura é tão linda e leve. Todos os personagens possuem um espaço significativo, que de hora em hora trazem reflexões e diálogos(não tão constantes) também sobre a vida, religião, política, história, sentimentos. Mas que talvez não diretamente, foram palavras que fizeram sentido para mim e fazem parte dos meu pensar de agora, então foi uma leitura muito incrível. E até mesmo perculiar, pois somente no fim me veio a tona tudo o que eu consumi nessa leitura e eu fiquei 'estupefata'.
"Porque não se luta contra o céu, não se resiste ao sorriso dos anjos!"