Mari 27/10/2021
A madame que fugia da realidade
Tanto na pintura como na literatura sempre achei interessante conhecer as obras que deram início a um novo movimento, e Madame Bovary é considerada o marco do realismo na literatura mundial.
O realismo surgiu para substituir o romantismo, que tinha como características: a subjetividade, o sentimentalismo, a fuga da realidade e a idealização da sociedade, da mulher e do amor.
Em Madame Bovary, Flaubert nos traz a mulher adúltera, o amor corrompido, o fracasso social e as críticas à sociedade e aos valores da época.
Emma Bovary é romântica e ingênua. Idealiza o amor e deseja vivê-lo com a mesma intensidade que o experiencia em seus livros. Ao se casar, fantasia uma vida de luxo ao lado de um marido que a ama.
Apesar de não ser o mais brilhante, nem o mais interessante dos homens, Charles é íntegro e a ama verdadeiramente, e sua situação financeira não é a pior, mas ainda assim Emma se descobre infeliz, pois não sente o que deseja sentir.
?Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, lhe haviam parecido tão belas.?
A sua pequena cidade e a mediocridade provinciana a irritam, o seu casamento e seu marido sem ambição a deixam com falta de ar, a filha e as obrigações da maternidade a desnorteiam, tudo se transforma em tédio e insatisfação no mundo de Emma, até mesmo os amantes - assim que os encontros escondidos passam a virar rotina, ela começa a se entediar.
A sua essência romântica e infantil faz a realidade ser um fardo pesado demais a ser suportado, e assim, a cada expectativa frustrada Emma se torna cada vez mais egocêntrica e imprudente.
Madame Bovary é, sem dúvida, um romance que vai de encontro com o romantismo. A deprimida e entediada Emma inaugura o gênero realista com louvor.
Flaubert é sensacional e a leitura flui super bem. Terminei com um nó na garganta que demorou a se desfazer.
Livro bom é assim!
?
Em 1982, o filósofo francês, Jules de Gaultier, inspirado pela obra, escreveu um ensaio onde analisa o comportamento da personagem e cria o termo ?Bovarismo? utilizado hoje na psicologia e descrito no dicionário como ?a tendência que certos indivíduos apresentam de fugir da realidade e imaginar para si uma personalidade e condições de vida que não possuem, passando a agir como se as possuíssem?