duda medeiros 15/09/2020
expectativas frustadas
De antemão, é impossível não comparar a escrita de Anne Brontë com a das suas irmãs, Charlotte e Emily. Uma vez que li e reli várias de suas revolucionárias obras, me decepcionei logo de cara com Agnes Grey e, espero de coração, voltar a ler algum escrito de Anne para reconsiderar, com expectativa de evolução, alguns aspectos de sua escrita.
É uma narrativa que não flui em momento algum, até que cheguei um ponto de querer me obrigar a ler determinado número de páginas diariamente para acabar a obra (fato que quase nunca ocorre! A leitura, pra mim, é fonte de prazer e não de obrigação) mas eu precisava formar uma opinião acerca de Anne Brontë, e claro, não está totalmente consolidada tendo em vista que, ainda, só li uma obra sua.
Mas enfim, sobre Agnes Grey: é uma heroína apagada, destituída de qualquer característica admirável, em outras palavras: sem graça.
Em sua personalidade não há nada que a destinge dos demais a sua volta, Agnes não tem coragem e sempre se submete ao silêncio de seu sofrimento e ás humilhações impostas pelos superiores os quais serve de educadora.
A escrita é poética e bela a seu modo, Anne é bem detalhista e apaixonada, demonstra isso através dos olhos de Agnes, mas são tantas tragédias no enredo e falta de fluidez na escrita que acaba por perder a mágica do livro.
Me dói muito, pq não é apenas em uma ou outra passagem, durante a obra inteira Agnes se permite ser resiliente diante de todo tipo de maldade, e justifica sua submissão na religião.
Devoção ao cristianismo é uma característica presente na escrita de todas as irmãs Brontë mas em Agnes, ela põe moralidade onde não cabe. Ela sempre desculpa a falta de compaixão alheia com base em versículos que eu sinceramente não compreendo nem respeito sua interpretação, não creio que atos de malevolência sejam dignos de justificativa além do óbvio: carência de empatia. Se nos cabe estar entre essas pessoas, no mínimo, devemos lhes mostrar um pouco de razão, e não SILENCIAR-SE. O silêncio, por vezes, na obra, é interpretado como sinônimo de razão e de liberdade para desfazer-se do próximo de modo a não considerar seus sentimentos.
E isso me incomoda durante toda, absolutamente TODA, a obra.
Quanto ao romance em si, eu já não esperava que a heroína fosse provida de toda paixão pela carne o qual é explícito nos romances de suas irmãs, mas é bem mais frustrante pq, em Agnes, ela sente certa ardência (resiliente), mas além de não desmonstrar em atitudes (isso eu compreendo, levando em conta os valores morais da época) ela também não dá continuação sobre o decorrer do romance. Quando ENFIM chega ao ápice, em que seu amado revela toda sua simpatia... o livro acaba.
Sabe ? Frustante. Tanto sofrimento, ilusão e desespero para absolutamente nada.
Poderia resumir todas minhas palavras acima em decepção.
espero superar esses sentimentos e tornar a ler algo de Anne Brontë.