jonasbrother16 19/10/2021
Um clássico que não dispensa apresentações: Teogonia é um poema épico escrito por Hesíodo (será mesmo?) por volta do século VII ou VI a.C., posterior a Homero (será mesmo?), autor da Ilíada e Odisseia. É um poema difícil de localizar no tempo, de depurar do seu contexto, e mesmo de entender profundamente. O bom é que é curto, então dá pra ler mais de uma vez com calma.
A história contada aqui é a gênese do mundo e dos deuses, ou dos dois ao mesmo tempo, já que, como dizia Tales de Mileto, "tudo está cheio de deuses". E ainda sobre o "tempo": é uma das coisas mais complicadas de entender aqui, já que existem diversas contradições temporais, onde o filho já existe antes do pai, o pai gera o filho, mas o filho é que sustenta a existência do pai (leia o estudo introdutório do Jaa Torrano e tente entender alguma coisa daquilo). Temos aqui as divindades originárias, Terra e Céu, depois vemos a saga de Crono desde sua subida ao poder, até sua derrocada nas mãos de Zeus, e depois como Zeus estabelece o seu domínio para sempre no mundo. Mas, como eu disse, as coisas não acontecem tão cronologicamente assim, existem complicadores. Mas é mais ou menos isso.
Li mais essa tradução do Christian Werner, que achei um pouco complicada na construção das frases. Eu não sou especialista, mas me incomodou um pouco como ele tratou a maioria das adjetivações no grego. Não sei exatamente como se chama isso na gramática, mas por exemplo, no inglês eu consigo dizer o seguinte: "this is a heart-breaking, soul-crushing song". Como traduzir toda essa adjetivação da palavra "song"? Em português é difícil, não costumamos construir frases assim, e deve ser um pesadelo para o tradutor. Acontece que no grego - ao menos é o que me parece - encontramos o mesmo tipo de construção, e quase todos os deuses possuem um "apelido" antes de seu nome, o que torna muito complicada a construção das frases. Daí prefiro a via da tradução do Jaa Torrano, que por vezes reconstrói a frase toda para desviar do problema.
Mas a edição do Werner não é dispensável, pois ela é bilíngue, o que adiciona muita riqueza à leitura. A do Torrano (ao menos na que tenho em mãos) não possui nem o texto em grego, nem a contagem de versos, também presente na edição de Werner. Por outro lado, Torrano tem um estudo introdutório milhas mais profundo do que o de Werner, que se limita a só meio que resumir o poema. Mas mesmo no detalhado e erudito estudo de Torrano, me incomodou a repetitividade. Ele repete as mesmas ideias várias e várias vezes. Se para bom entendedor, meia palavra basta, imagine se damos a ele 80 palavras? É cansativo. Mas essa repetitividade pode agradar alguns, já que o texto realmente não é nada fácil, e é mesmo necessário retomar o que já foi dito.
Boa leitura, mas muito desafiadora.