gabriel 02/03/2021
Longo e confuso
As mais de mil páginas desse catatau alternam entre bons e maus momentos - para mim, mais maus do que bons. O romance principal (entre o protagonista inglês e uma samurai japonesa) é até charmoso, mas não cola, e tem momentos muito constrangedores. A narrativa é arrastada, bem escrita no geral, mas que se perde em muitos detalhes irrelevantes.
A história é rocambulesca, complicada e difícil de ser acompanhada. São muitos personagens, alguns dos quais não se sabe qual a função e qual a importância na trama. Muitos momentos são tediosos, é comum o livro ter longas passagens do tipo, "fulano acordou, comeu arroz com peixes, olhou o horizonte tingido de vermelho e blá blá blá". Tudo é muito longo e desnecessário. Mas as passagens são, no geral, bem escritas.
Este livro começou muito bem para mim, fui empolgado na narrativa do navegador inglês que se perde no Japão de séculos atrás. Mas a história empaca, não vai para lugar nenhum e vira uma grande enrolação. A grande virada final é difícil de entender, de tão elaborada que foi. É um livro bem imaginativo, mas que apresenta isso de uma maneira pouco balanceada.
Todo japonês é um suicida, e acontece acho que centenas de seppukus - o suicídio samurai, cravando a espada no ventre - ao longo da história. No começo é legal, mas cansa muito rapidamente, além de soar muito forçado. Claro que há a diferença cultural e a necessidade de se defender a honra, mas chega um ponto do livro em que o cara dá bom dia e já quer cometer seppuku. Aí não dá...
A mesma coisa acontece com a piada do "travesseiro", que arranca um sorriso do rosto algumas vezes, mas que depois se torna apenas repetitiva.
São muitos personagens, muitos detalhes burocráticos irrelevantes, tornando a leitura arrastada e tediosa; uma trama política muito complicada e que não faz muito sentido, e mais de mil páginas que poderiam ser tranquilamente umas trezentas ou quatrocentas. Os diálogos vão se tornando engessados mais para o final, com aquela sensação de que o autor correu contra o deadline. Mas tem suas qualidades, algumas cenas são interessantes (destaco o sadismo de Yabu com a tripulação de Blackthorne, que foi excelente), as cenas de Toranaga com os falcões, e mais algumas outras.
Poderia ter sido bem melhor, o começo foi muito promissor, o meio foi entediante, e o final até que dá uma melhorada e resolve algumas coisas. Seria muito mais divertido se fosse uma narrativa um pouco mais leve e enxuta, focada em menos personagens. O autor, no entanto, é bem sucedido em criar uma sensação de um Japão grande, cheio de localidades imponentes e uma cadeia de poder longa e tradicional, e isso ficou bem marcado no livro. Mas não compensou e a leitura no geral foi bastante tediosa.
Enfim, considero este livro uma grande decepção. Lá pelo meio, se tornou mais uma obrigação que um prazer. Não chega a ser um livro ruim, ele tem boas premissas e o autor tem um estilo de escrita agradável, e as descrições do Japão são interessantes, mas é tedioso e repete muito dos seus temas, com descrições muito longas e desnecessárias e um estilo de narrativa pouco empolgante.