Thiago 01/02/2023
Uma viagem épica ao Japão feudal repleto de samurais e piratas.
Samurais, piratas, guerras, batalhas navais, política e conflitos religiosos. Não à toa Xógum é considerada uma das maiores obras de James Clavell. A história se passa no século XVII e mostra a chegada de John Blackthorne, um piloto inglês do navio holandês Erasmus, que chega ao Japão em meio a um grande conflito político que irá mudar a história do país.
James Clavell fez parte da Marinha Britânica e viajou muitos anos pelo oriente e feito prisioneiro na ilha de Java durante a Segunda Guerra. Anos mais tarde escreveria diversos romances históricos utilizando o conflito entre ocidentais e orientais nas terras do leste. Nesse sentido, o livro mostra a ascensão do grande daimio Toranaga, alusão histórica a Tokugawa Ieyasu, em sua guerra para tornar-se o líder supremo e militar do Japão, O Xógum.
A narrativa se divide em diversos personagens, mas principalmente sob o olhar de Blackthorne, que acaba usado como um importante peão no jogo político por conta de seus conhecimentos bélicos e navais valiosos à Toranaga. No primeiro tomo acompanhamos toda a evolução do piloto que escapa da morte como um estrangeiro invasor e acaba tornando-se hatamoto, um título de grande importância entre os samurais.
E falando em samurais, boa parte do texto mostra a intrincada relação entre honra e dever para os membros desta casta. E a disparidade com que eles tratam os camponeses e estrangeiros até quase ao nível da desumanização em alguns momentos. Rituais como o auto sacrifício, o seppuku, e o Bushido são temas abordados ao longo da história.
Um dos elementos mais divertidos da trama, em diversos sentidos, é justamente o choque cultural de um inglês dos mares como Blackthorne tendo de se adaptar aos complicados costumes japoneses. Uma simples refeição é motivo de desacordo entre os personagens. Ou mesmo o hábito do banho diário e a forma como os japoneses encaram a nudez, bem diferente da visão conservadora dos europeus. Sendo os momentos mais difíceis, e às vezes engraçados, a dificuldade de “Anjin-san” para se comunicar na língua nativa.
A religião por vezes é um tema sempre presente. Importante lembrar que historicamente esse era um período de forte presença de portugueses e espanhóis no Japão. Uma parte considerável da população já havia se convertido ao cristianismo católico, inclusive importantes daimios e samurais. Enquanto que Blackthorne era um cristão protestante colocando-o em rota de confronto direto com os padres locais. Tudo isso é encarado como uma moeda política por Toranaga e seus inimigos na disputa pelo poder.
É uma leitura muito prazerosa e envolvente, porém densa e cheia de detalhes sobre locais e nomes que podem causar alguma confusão. Falta na maioria das edições brasileiras um mapa do Japão nesse período. Além de um apêndice de nomes e termos que auxiliariam o leitor. Mas são fatores que em nenhum sentido depõem contra a obra.
Xógum já ganhou um musical na Broadway e uma minissérie para a televisão com Richard Chamberlain, Toshiro Mifume e John Rhys-Davies. Existem planos para uma nova série de TV atualizando a história. E já nesse primeiro tomo o leitor embarca na viagem ao Japão Feudal de James Clavell de maneira deliciosa e apaixonante, sem sentir o peso das quase 1000 páginas que compõem esse épico.