GCV 24/03/2009
Gênio do mal chinês
Se por algum motivo insólito o celébre detetive de Sir Arthur Conan Doyle se defrontasse com o terrível chinês criado por Sax Rohmer, com certeza teríamos uma obra-prima da literatura policial.
Escrito na onda do Perigo Amarelo, “O Mistério do Dr. Fu-Manchu” tem como ponto alto não um sagaz detetive, mas sim um astuto vilão. Mestre de artes ocultas e com seus tentáculos espalhados por todo o mundo, o Dr. Fu-Manchu aterroriza um agente da Coroa Britânica que nunca consegue antecipar seus passos, apenas escapar de suas armadilhas. Tributário ao estilo de Conan Doyle, Sax Rohmer faz com que o comissário Nayland Smith e o doutor Petrie – um médico e um criminalista, como Sherlock e Watson – desvendem os crimes de Fu-Manchu, mas sempre depois de ocorridos.
Embora calcado em um forte preconceito e racismo, o Dr. Fu-Manchu consegue extrapolar o sentimento de medo e ódio em relação aos chineses, sendo um personagem cativante. Sua posição distante porém sempre firme e consciente faz dele um dos grandes vilões da literatura. Contudo, a obra de Rohmer, em parte por ter sido concebida primeiramente como pequenas histórias e depois compilada em romance, em parte por ser uma das primeiras escritas por ele, carece de coerência e sobra em “ingenuidade”. Mesmo de enredo um tanto mambembe, “O Mistério do Dr. Fu-Manchu” é um bom livro para apreciadores do gênero policial ou de grandes vilões; outros leitores, contudo, podem ter de utilizar um pouco de “força de vontade”.
Ironicamente, Sax Rohmer faleceu de gripe asiática em 1959.