anna v. 20/09/2024
Merecido clássico
Li este livro décadas atrás. Mas então minha filha adolescente resolveu ler, em inglês, e baixou uma versão gratuita no Kindle. Eu me deparei por acaso com uma edição novinha, em inglês, por 10 reais, então comprei. Comecei a ler despretensiosamente apenas para me lembrar como começava. Mas aí tive que pegar um voo, cheguei bem cedo no aeroporto e tive que fazer hora, segui lendo. Durante o voo, li mais um pouco. Quando cheguei em casa faltavam poucas páginas, então fui até o final.
É um livro fascinante, que merece seu lugar na estante dos clássicos do século XIX. Com um toque de realismo fantástico (o retrato que envelhece e o retratado que permanece sempre jovem), Oscar Wilde disseca o tema da corrupção moral (mais do que o envelhecimento em si, eu diria, embora as duas coisas pareçam estar entrelaçadas). O que cativa todos no jovem Dorian Gray é não apenas sua beleza e juventude, mas sua inocência e joie de vivre. Então, quando ele começa a praticar ações condenáveis, é como se sua alma se conspurcasse, e é isso que ele enxerga no retrato, e que o horroriza. Tudo isso muito bem desenvolvido pelo autor.
Além disso, tem os outros personagens, e os diálogos são impagáveis. Parece que estamos vendo aqueles ingleses aristocratas e desocupados, dândis futriqueiros, um querendo "lacrar" mais do que o outro, num verdadeiro concurso de cinismo.
Uma leitura muito rápida, agradável, e que provoca reflexão.
* Daqui pra frente tem spoiler *
O livro começa com Dorian posando para um retrato, para seu amigo pintor Basil. Ali ele conhece Lord Henry, um aristocrata mais velho, que se tornará seu grande amigo e que o influencia com sua filosofia cínica e decadentista. Embora não haja menções explícitas, é evidente que tanto Basil quanto Henry são apaixonados pelo lindo e jovem Dorian Gray.
O retrato fica pronto, é lindo, e Basil o dá de presente para Dorian.
Dorian se apaixona por uma atriz de teatro, jovem e pobre, Sybil Vane. Ele vai toda noite ao teatro assisti-la, e a pede em casamento. A mãe, que também é atriz, faz muito gosto no relacionamento com o homem rico, mas o irmão de Sybil, James, acha que é uma cilada. Mas James está de partida para a Austrália, onde vai tentar a vida como marinheiro. Basil e Henry acham uma loucura essa história de casamento de Dorian.
Um belo dia, Sybil deixa de atuar bem, porque, segundo ela, agora ela conhece o amor verdadeiro e não precisa mais se entregar ao amor de mentira que é o teatro. Com isso, com sua ausência de talento, Dorian se desapaixona por ela, e rompe o noivado abruptamente. No dia seguinte, recebe a notícia de que Sybil se matou. Dorian fica atormentado pela culpa, mas depois de conversar com Henry muda de ideia e se convence que não teve nenhuma culpa no episódio. É nesse momento que ele percebe a primeira mudança no retrato, um esgar de desprezo sutil, mas que não lhe passa despercebido. Ele logo decide trancar o retrato no sótão.
Depois disso o tempo passa e Dorian Gray se torna um ícone da moda e da elegância, um dândi, referência na sociedade de Londres, mas cada vez mais corrupto e cínico. Várias pessoas que se aproximam dele têm destinos trágicos - morrem, se matam, são exiladas.
Quando já tem quase 40 anos, Dorian recebe a visita de Basil, de quem se afastara. O pintor quer lhe contar como ele (Dorian) está mal falado na sociedade, mas Dorian não quer ouvir. Ele acaba levando Basil para ver o retrato, que a essa altura está completamente diferente de quando foi pintado. Basil fica horrorizado e Dorian o mata a facadas. Em seguida dá um jeito de sumir com o corpo (envolvendo um conhecido que ele chantageia para ajudá-lo e que acaba se matando depois) e com os pertences de Basil. No fim das contas, Dorian nunca é pego nem punido por nenhum dos seus crimes ou maldades.
Por fim, atormentado pela estranha maldição e pelo retrato cada vez mais repulsivo, Dorian destrói o quadro a facadas. No dia seguinte, seus empregados encontram um homem decrépito morto no sótão, ao lado do retrato de Dorian jovem e belo.
Beeem sinistro!