Rafael2767 25/06/2024
Memórias do subsolo é o primeiro livro de Dostoiévski que li, inicialmente em 2022, e agora releio em 2024, para ver se estou pronto para embarcar em Irmãos Karamázov, obra mais extensa do autor.
Na primeira parte da escrita, o autor apresenta sua visão de mundo, na qual é possível perceber seu anseio por justificar sua forma de vida miserável. Explicar não a nós, leitores, mas sim a si próprio. O homem do subsolo passa quase 60 páginas justificando porque vive dessa forma deplorável para, então, dizer que não acredita em nenhuma palavra escrita até ali e que inveja o "homem ativo". Nessa longa introdução já dá para ter uma boa noção de como pensa o protagonista, mas não ache que isso fará você adivinhar que atitudes ele tomará, pois com certeza irá te surpreender. Em várias ocasiões você irá, assim como eu, querer "enfiar a cabeça dentro da terra" de vergonha alheia e se perguntar "por que ele fez isso?".
Na segunda parte ele relata alguns episódios de sua juventude, de quando ainda "mobiliava seu subsolo", que, à época, já era uma bela mansão de pensamentos rancorosos. Os capítulos que narram o jantar no hotel Paris me geraram um tremendo desconforto e a cada atitude eu só torcia para o homem do subsolo sair dali e voltar para sua toca intrusiva, o que em nenhum momento ocorreu.
Em várias situações descritas eu me peguei perguntando: "será que em determinada situação eu já agi como o personagem?". E a resposta é: sim, com certeza já pensei e agi como ele. Em todo mundo imagino que haja um pouquinho desse rancor subterrâneo e por isso acho que essas "notas" são tão boas. A questão é: com que frequência deixamos nosso "eu do subsolo" vir à luz?
Durante a leitura fiquei teorizando que o autor das notas tivesse algum transtorno mental, em específico o transtorno do espectro autista. Sua irritabilidade fácil e excessiva; dificuldade de interação social e; superdotação intelectual me levam a pensar isso e imaginar o sofrimento de pacientes psiquiátricos da época.
Concluindo, a leitura é longe de ser agradável mas é incrível o que Dostoiévski consegue fazer com as palavras. É possível ver um pouquinho do autor em vários escritores subsequentes: Machado de Assis, Graciliano Ramos (me vem à mente Angústia, lido em 2022 para o vestibular), entre vários outros.
Acho que estou pronto para iniciar os Irmãos Karamázov e quero, em breve, voltar aqui para relatar minhas impressões.