rayssadioli 27/05/2024
O protagonista, que não nos evidencia seu nome, vai, por meio dessa novela, se expor, mostrando, principalmente, coisas nada atrativas que compõem seu caráter, por meio do qual muitas pessoas podem se identificar, como infelizmente foi o meu caso. No entanto, apesar do ?infelizmente?, acho que isso é bem comum, de modo que provavelmente deve ter sido escolha do próprio autor isso de retratar a sociedade expondo seu lado que, apesar de todos os esforços para não demonstrar suas fraquezas e defeitos, esses são, inevitavelmente, em algum momento expostos, mas, no caso do narrador, isso acontece a todo momento, principalmente devido às suas escolhas.
Esse livro é um dos precursores do Existencialismo, uma corrente filosófica, de modo que, caso o leitor a conheça, mesmo que previamente, torna-se aqui possível relacionar e identificar ideias dos principais filósofos existencialistas, bem como ter uma interpretação mais rica da novela.
As ações escolhidas pelo personagem são, muitas vezes, impulsivas, resultando em episódios desagradáveis na vida do protagonista, os quais serão remoídos por ele durante sua narração. Dessa forma, fica evidente o impacto da liberdade incondicional, e o personagem, sendo livre, escolhe tomar atitudes que culminam em seu arrependimento e consequente angústia e ódio, o que foi muito bem explorado pelo autor.
Trata-se de um personagem extremamente contraditório tanto consigo quanto com os outros. Isso acontece de tal forma que ele, em um dado momento de sua vida, mesmo desprezando certas pessoas que estudaram com ele em seu tempo de escola, se oferece para acompanhar estes, oferecendo dinheiro que ele nem ao menos tinha sobrando, o que nos mostra que ele queria desesperadamente ser incluído socialmente, assim como ser bem visto, apesar de, como dito anteriormente, desprezar tais pessoas. Contudo, sua tentativa de se mostrar superior e fazer os outros o admirarem não foi bem sucedida, de maneira que consegue outro motivo para sua angústia.
Outra parte que exemplifica bem a personalidade do personagem é quando ele, ao ser ignorado e tratado como se fosse um ninguém, é tomado por um profundo ódio do homem que o trata desse jeito. Isso acontece quando ele vê um homem sendo arremessado pela janela de um lugar e, em seu anseio por querer sentir algo, tenta provocar para que o mesmo seja feito com ele, de modo que se coloca na frente da passagem das pessoas e um homem simplesmente o tira de lá, do caminho, como se ele não fosse nada. A partir disso, suas atitudes beiram o absurdo, ele persegue esse homem e fica completamente obsecado devido ao seu ódio, mas não faz nada no final das contas.
Escolhi detalhar os ocorridos acima para mostrar como é o personagem, que vai se descobrindo extremamente insignificante, mas que, ao mesmo tempo, acha-se superior pelo fato de se enxergar como alguém que tem clara consciência das coisas.
Após ter se sentido humilhado frente ao homens com quem ele saiu, ele os procura, mas não os encontra, deparando-se com uma protista, para a qual dirige diversas recriminações e, posteriormente, ele próprio se revela a ela.
Em suma, essas memórias autodestrutivas e amarguradas do narrador, apesar de serem pesadas no quesito psicológico, são divertidas de serem lidas, pelo menos no que tange ao meu ver, já que os momentos contraditórios do personagem, as situações absurdas por ele vividas, a maneira como a história é contada? Tudo isso torna a história única e interessante, o que confesso que não me surpreende vindo do Dostoiévski, vulgo meu autor favorito. Assim, recomendo a todos essa leitura, que é, sem dúvida, mais uma das obras-primas do autor.