Queria Estar Lendo 11/12/2023
Resenha: A Esperança
A Esperança é o título que fecha a trilogia de Jogos Vorazes. Da primeira vez que li, tive alguns percalços com ele. Mas, anos depois, a releitura serviu pra me mostrar o brilhantismo agridoce que é o fim dessa história.
Essa resenha vai conter spoilers dos livros anteriores.
O Distrito 12 não existe mais. Katniss e os poucos sobreviventes de lá que conseguiram escapar agora vivem no Distrito 13, que se escondeu desde os Dias Escuros em instalações subterrâneas muito fortificadas. É o 13, aliás, que está fazendo crescer o levante, incentivando os outros distritos a continuar o que começou com algumas amoras.
Katniss é o Tordo. O rosto e a voz da revolução. Depois de um acordo com a presidente do Distrito 13, ela aceita desempenhar o papel de guiar os distritos em direção à destruição da Capital. Principalmente se isso significar que, em algum momento, Peeta - capturado pela Capital - vai ser libertado. O problema é que ser o Tordo pode custar a Katniss tudo que restou dela.
A Esperança é um livro brutal. É brilhante e perturbador como a Suzanne Collins conseguiu colocar tanta coisa em um livro relativamente pequeno, e como tudo funciona tão bem.
A jornada de Katniss passou por todos os estágios de terror e sofrimento que uma personagem poderia aguentar. Não só ela, mas todos os personagens que viveram o pesadelo de estar nas mãos da Capital. Ela é a voz dessa dor, mas a gente sabe que é uma dor compartilhada e impossível de superar.
Tudo que acontece nesse livro é consequencial e muito bem fechado com o que aconteceu nos volumes anteriores. Cada ato de rebeldia gerou uma retaliação, e cada retaliação gerou novos atos de rebeldia. A Capital, no fim das contas, é um pequeno ponto no mapa, cercado por treze Distritos muito insatisfeitos.
A noção de que um simples ato de rebeldia pode despertar todo um levante é grandioso. É um reflexo da conversa que a Katniss tem com o Presidente Snow no segundo livro, quando falam sobre como o sistema é frágil. E é muito frágil, como A Esperança prova muito bem.
Mas frágil não significa fraco. E a resistência das forças da Capital é o que arrasta terror sobre o decorrer desse livro. A propaganda, tão bem utilizada nos outros volumes, é essencial aqui. Onde antes era parte do "pão e circo", aqui funciona militarmente. Guiando os rebeldes, incentivando os levantes, mostrando que o Tordo está de pé contra a tirania.
A guerra cresce junto com os levantes, e o livro trabalha o psicológico da sua protagonista junto com o absoluto horror que é viver em tempos de conflito. Ainda mais estando nas linhas de frente, representando. Eu gostei muito da maturidade da Katniss em alguns pontos, principalmente em relação à olhar para a guerra e buscar humanidade.
Ela não condena o ódio absoluto e a sede de violência que move certos personagens, como o Gale, e também não recrimina quando personagens gentis tentam encontrar espaço em meio aos conflitos, como é o caso do Peeta.
Os coadjuvantes têm grandes momentos nessa conclusão. Peeta, distante e nas mãos da Capital, é o que gera mais tensão. A incerteza que o acompanha depois da história ter nos feito amá-lo é um artifício muito poderoso da narrativa. Junto com a Katniss, nós tememos por ele.
Finnick está quebrado igual a Katniss, mas é menos participativo em relação à revolução, e mais aos bastidores - entregando uma das melhores cenas quando é usado como distração para atrair a atenção da Capital.
Se essa releitura me serviu de alguma coisa - além de me tirar da ressaca - foi para mostrar o poder narrativo que essa trilogia tem. Ainda que com algumas críticas que eu mantenho, como o fato de estar presa ao ponto de vista da Katniss, é uma das melhores histórias distópicas que a literatura já conheceu.
A Esperança termina em uma nota agridoce. Não é feliz, mas também não é triste. É esperançosa. Fala sobre os terrores e assume que não há como escapar deles, mas como contorná-los. É um final de apertar o coração, mas que é muito fiel à história que foi contada.
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