Paulo Silas 01/03/2017Terry Eagleton traceja a história daquilo que se entende(u) por literatura. Para tanto, expõe as diversas escolas acadêmicas que abordam a literatura como objeto de estudo. Afinal, o que é literatura?
A resposta, como esperado, não é tão simples. Tanto é que o autor não arrisca em conceituar algo que satisfaça o questionamento. A literatura, sua definição, o que se entende por ela, sempre depende de uma época, de um contexto, de uma situação. Daí que há no livro algumas tentativas de definições dadas não pelo autor, mas pelas mencionadas escolas, as quais acabam por estruturar a ideia de literatura de acordo com uma abordagem específica proposta.
Dentre as tentativas de definição da literatura, Terry Eagleton exemplifica que seria possível "defini-la como a escrita "imaginativa", no sentido de ficção", mas que ao se refletir sobre a resposta, pensando em muito daquilo que é considerado literatura, tem-se que tal definição não confere. Outra possibilidade de conceituação seria pelo emprego da linguagem de uma maneira peculiar, no sentido de que "a literatura transforma e intensifica a linguagem comum, afastando-se sistematicamente da fala cotidiana", mas isso também não seria suficiente para preencher com louvor uma conceituação definitiva.
Assim, não se pode dizer que a literatura seja isso ou aquilo, já que, conforme aduz o autor, "não existe uma "essência" da literatura", pois "qualquer fragmento de escrita pode ser lido "não-pragmaticamente", se é isso o que significa ler um texto como literatura, assim como qualquer escrito pode ser lido "poeticamente".".
Necessário se faz também mencionar um ponto importante levantado pelo autor acerca da questão:
"Alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de literários, e a outros tal condição é imposta. Sob esse aspecto, a produção do texto é muito mais importante do que o seu nascimento. O que importa pode não ser a origem do texto, mas o modo pelo qual as pessoas o consideram. Se elas decidirem que se trata de literatura, então, ao que parece, o texto será literatura, a despeito do que o seu autor tenha pensado"
Toda a problematização de uma postura relativa acerca da literatura é muito bem explanada pelo autor, assim como também é exposta a problemática em se adotar uma postura estritamente objetiva da questão. É uma das razões pelas quais o autor não fornece um conceito próprio da literatura. Antes, trabalha expondo e problematizando várias conceituações existentes.
A fim de abordar a proposta da obra, o autor divide o livro em capítulos de acordo com a corrente/escola/forma de abordagem pela qual a literatura pode ser analisada e debatida. Após demonstrar a dificuldade de se conceituar a literatura (na introdução), tem-se os capítulos "A ascensão do inglês", "fenomenologia, hermenêutica, teoria da recepção", "estruturalismo e semiótica", "o pós-estruturalismo" e "a psicanálise", encerrando ainda pela conclusão com uma "crítica política", onde o autor conclui que a teoria literária analisada na obra é política, isso porque o que Terry Eaglenton acaba demonstrando é que "a história da moderna teoria literária é parte da história política e ideológica de nossa época".
Para o autor, uma teoria literária "pura" seria meramente um mito acadêmico. A teoria literária deveria "refletir a natureza da literatura e da crítica literária", o que acarretaria em dizer que "a crítica literária é uma "não-disciplina"", já que "se a teoria literária é uma reflexão crítica sobre a crítica, segue-se, então, que também ela é uma não disciplina".
É um livro robusto e crítico, que faz um apanhado profundo e legítimo acerca da teoria literária. Responder o que seria ou não a literatura é uma atitude ousada e, por vezes, pouco refletida como deveria ser. Interessantíssimo, valendo muito a pena ser lido.
E fica aqui a alegoria com a qual o autor encerra o livro na conclusão:
"Nós sabemos que o leão é mais forte que o domador, que também sabe disso. O problema é que o leão não sabe. Não é de todo impossível que a morte da literatura ajude o leão a acordar."