spoiler visualizardariostradlin 25/05/2022
Um livro fascinante de uma história real, digna de cinema
"Conheci" o Klester através do YouTube, no À Deriva podcast. Tenho buscado conhecer mais sobre jornalistas e seus trabalhos na esperança que, de alguma forma, suas experiências me ajudem. Afinal, embora insignificante, sou um jornalista também.
No podcast, o Klester falou sobre este e outros de seus livros, o que me deixou muito curioso. Nem lembro a última vez que havia comprado um livro, mas esse hiato acabou com O Nome da Morte. Resisti à curiosidade de assistir ao filme disponível na Netflix e fiz muito bem.
Ao ler a sinopse do livro, parece absurdo que a história seja real. Não pelos feitos abomináveis de Julio Santana, mas por ele estar por aí, livre como um belo pássaro. Aposto que muitos fizeram o mesmo questionamento: como o jornalista mantém contato por sete anos com um assassino, e não o denuncia? Por que ele não o entregou para que mais mortes fossem evitadas? Bom, meus amigos, um bom jornalista é imparcial e mantém suas emoções, opiniões e julgamentos distantes do tema que está sendo tratado. "Então para ser um bom jornalista, ele permitiu que pessoas morressem?". Não é bem assim.
Para começar, Klester não tinha endereço ou contato direto com Julio. Era o pistoleiro quem entrava em contato e as ligações eram feitas em orelhões (final dos anos 90, início dos anos 2000). Foi somente depois da "aposentadoria" de Julio que eles se encontraram pessoalmente. Poderia nesta ocasião Klester ter traído Julio, levado junto com ele a polícia e provas dessas mortes? Talvez sim, mas você arriscaria sua vida fazendo isso? Entendo ser questionável, mas entendo ainda mais o profissionalismo de um jornalista que foi capaz de reunir informações por quase uma década e transformá-las em um "romance" literário digno de cinema.
A riqueza de detalhes escritos faz com que o leitor consiga imaginar perfeitamente o ambiente selvagem, literalmente, em que vivia Julio Santana. É uma realidade, com início há 50 anos, totalmente diferente da vivida nos dias atuais. E aí o leitor pode, mais uma vez, questionar: como ele pode contar todos esses detalhes se ele não estava lá? Como o Júlio poderia lembrar de tudo isso?
Neste ponto, cabe ao leitor imaginar como eram os relatos de Júlio para Klester e quais perguntas eram feitas. Júlio pode ser um excelente contador de histórias. Ou não. Mas Klester sabia como buscar esses detalhes que pudessem estar adormecidos na memória do assassino.
Eu imagino os seguintes diálogos: "Como foi teu primeiro trabalho?", questionou Klester. "Foi assim e assim", respondeu Júlio. "Ok, mas o que tu lembras sobre isso? Como estava o dia? O que tu sentiu? Como eram as matas? Que animais tinham por lá? Como você atirava, que joelho você apoiava no chão?" E por aí vai.
Além do mais, Júlio Santana participou de momentos históricos da história do Brasil, eventos que fazem com o que o leitor enxergue ainda mais a realidade deste pistoleiro.
É, de fato, um livro fascinante que consumi em uma semana. Certamente, se pudesse, teria lido em menos tempo. Pois pensava nele enquanto estava no trabalho como Júlio pensava em Ritinha durante seu trabalho para o exército (risos).
Por último, recomendo fortemente que leiam o livro antes de verem o filme porque o filme se passa em outra época e sem momentos marcantes que ocupam, sem exageros, quase metade do livro.