rperesperes 14/12/2019Tudo sobre o livro + Resumo + Minhas consideraçõesRESUMO
Para ter boas ideias não devemos nos forçar a procurar por algo, a boa ideia vem por acaso, e nos abastece através de vários conjuntos de fatores. Não devemos levar os erros como fracassos, pois muitos deles foram combustíveis de inovadores para novas descobertas. Cultivar intuições, hobbies, reciclar e se reinventar podem ser boas fontes para ter boas ideias. Não ignore o que se descobre por acaso, construa milhares de ideias.
MINHAS CONSIDERAÇÕES
- Boas ideias são, inevitavelmente, limitadas pela experiência e vivência que as cercam.
- Para tornar a mente mais inovadora, temos de inseri-la em ambientes que compartilhem daquele mesmo tipo característico de rede.
- Podemos aprender sobre a história da inovação examinando grandes ideias que mudaram o mundo.
- Até as artes criativas se desenvolvem por meio de plataformas empilhadas.
- Através de muitos erros de experiências, foram descobertas grandes coisas.
- Empreste e tome emprestado ideias.
- Aceite e deixe fluir o que é descoberto por acaso.
A partir daqui, tudo sobre o livro...
INTRODUÇÃO
Este é um livro sobre o espaço da inovação. Alguns ambientes sufocam as novas ideias, outros parecem gerá-las sem esforço. A cidade e a web foram motores de inovação desse tipo porque, por razões históricas complexas, as duas são ambientes poderosamente propícios à criação, à divulgação e à adoção de boas ideias.
A literatura acadêmica sobre inovação e criatividade é rica em distinções sutis entre inovações e invenções, e entre diferentes formas de criatividade: artística, científica e tecnológica. Foi escolhida a expressão mais ampla possível, boas ideias, para sugerir as várias formas que o autor tenta adotar. Nesta análise, as boas ideias vão de plataformas de software a gêneros musicais, de padrões científicos a novos modelos de governo. A primeira ideia de raciocínio é que há tanto valor a ser encontrado na busca das propriedades comuns entre todas essas diferentes formas de inovação e criatividade quanto na documentação das diferenças que as separam.
O POSSÍVEL ADJACENTE
Boas ideias são, inevitavelmente, limitadas pelas peças e habilidades que as cercam. Temos uma tendência natural a romantizar inovações revolucionárias, imaginando ideias de grande importância que ultrapassam seus ambientes, uma mente talentosa que de algum modo enxerga além dos resíduos das velhas ideias e da tradição engessada. Mas as ideias são trabalho de bricolagem; são fabricadas a partir desses restos. Tomamos as ideias que herdamos ou com que deparamos e as ajeitamos numa nova forma.
De maneira semelhante, os ambientes das grandes cidades possibilitam muito mais exploração comercial do possível adjacente que cidades pequenas ou aldeias, permitindo que negociantes e empresários se especializem em campos que seriam insustentáveis em centros populacionais menores. A web explorou o possível adjacente de seu meio de maneira muito mais rápida que qualquer outra tecnologia de comunicação na história.
Dentro de poucos anos, porém, o espaço de possibilidades começou a se expandir. A web se tornou um meio que nos permite fazer transações financeiras, o que a transformou num shopping center, numa casa de leilões e num cassino. Pouco depois, tornou-se um verdadeiro meio de mão dupla, no qual era tão fácil publicar o próprio texto quanto ler os dos outros, gerando formas que o mundo nunca vira antes: enciclopédias escritas pelos usuários, a blogosfera, os sites de redes sociais. O YouTube fez da web um dos mais influentes mecanismos de distribuição de vídeos no planeta. E agora mapas digitais estão desencadeando suas próprias revoluções cartográficas.
Podemos ver as impressões digitais do possível adjacente em um dos mais notáveis padrões de toda a história intelectual, o que os especialistas chamam de “múltiplo”: um cientista ou inventor em algum lugar do mundo tem uma ideia brilhante, mas, quando vai a público e revela seu achado extraordinário, descobre que três outras mentes haviam chegado, de maneira independente, à mesma ideia no ano anterior.
O telefone, o telégrafo, a máquina a vapor, a fotografia, o tubo de vácuo, o rádio – quase todos os avanços tecnológicos essenciais da vida moderna têm um múltiplo escondido em algum lugar na história de sua origem.
Quando essas partes se tornaram disponíveis, a descoberta do oxigênio entrou na esfera do possível adjacente. O isolamento do oxigênio, como se diz, estava “no ar”, mas apenas porque um conjunto específico de descobertas anteriores havia tornado esse experimento imaginável.
O possível adjacente tem a ver tanto com limites quanto com aberturas. Na linha do tempo de uma biosfera em expansão, a todo momento há portas que ainda não podem ser abertas. Na cultura humana, gostamos de pensar nas ideias revolucionárias como acelerações na linha do tempo, quando um gênio salta cinquenta anos adiante e inventando algo que as mentes normais, aprisionadas no momento presente, não poderiam descobrir. Mas a verdade é que os avanços tecnológicos (e científicos) raramente escapam do possível adjacente.
A história do progresso cultural é, quase sem exceção, a história de uma porta que leva a outra, permitindo a exploração de uma sala do palácio de cada vez. Mas, como evidentemente a mente humana não é limitada pelas leis finitas da atração molecular, de vez em quando alguém tem uma ideia que nos teletransporta para certas salas adiante, saltando alguns passos para explorar no possível adjacente. Mas essas ideias quase sempre resultam em fracassos de curto prazo, exatamente por terem dado um salto à frente. Temos uma expressão para qualificá-las: dizemos que estão “à frente de seu tempo”.
REDES LÍQUIDAS
Uma boa ideia é uma rede. Uma constelação específica de neurônios, milhares deles se acendem, uns em sincronia com os outros, pela primeira vez em nosso cérebro, uma ideia pipoca em nossa consciência. Uma nova ideia é uma rede de células explorando o possível adjacente de conexões que elas podem estabelecer na nossa mente. Isso é verdade, quer a ideia em questão seja uma nova maneira de resolver um complexo problema de física, quer seja a linha que encerra um romance, ou uma característica para um software.
Se formos tentar explicar o mistério da origem das ideias, teremos de começar nos livrando deste erro comum: uma ideia não é algo único. Parece mais um enxame. Quando pensamos sobre ideias em seu estado natural de redes neurais, duas coisas ficam claras. Primeiro, o simples tamanho da rede: não se pode ter uma experiência com apenas três neurônios se acendendo.
A rede precisa ser densamente povoada. Nosso cérebro tem cerca de 100 bilhões de neurônios, um número bastante impressionante, mas todos eles seriam inúteis para criar ideias (assim como para todas as outras realizações do cérebro humano) se não fossem capazes de estabelecer essas conexões complexas uns com os outros. Um neurônio conecta-se com mil outros neurônios espalhados pelo cérebro, o que significa que o cérebro humano adulto contém 100 trilhões de conexões neuronais distintas, fazendo dele a maior e mais complexa rede existente na Terra.
(Em comparação, há algo na ordem de 40 bilhões de páginas na web. Supondo uma média de dez links por página, significa que você anda por aí tendo, dentro do crânio, uma rede de alta densidade, muitas ordens de magnitude maior que toda a World Wide Web.)
Outra ideia é que a rede seja plástica, capaz de adotar novas configurações. Uma rede densa que não consegue formar novos padrões é, por definição, incapaz de mudar, de investigar nas bordas do possível adjacente. Quando uma nova ideia surge em nossa cabeça, a sensação de novidade que torna essa experiência tão mágica tem um correspondente direto nas células de nosso cérebro: um conjunto inteiramente novo de neurônios se reuniu para tornar o pensamento possível.
Essas conexões são formadas por nossos genes e pela experiência pessoal: algumas delas regulam nossos batimentos cardíacos e disparam reações reflexas; outras trazem as lembranças sensoriais. As conexões são a chave da sabedoria, e é por isso que a teoria de que perdemos neurônios após atingir a idade adulta é irrelevante. O que importa em nossa mente não é só o número de neurônios, mas a numérica conexão que se forma entre eles.
A questão é como chamar nosso cérebro para essas redes mais criativas. A resposta é maravilhosa: para tornar a mente mais inovadora, temos de inseri-la em ambientes que compartilhem daquele mesmo tipo característico de rede, ou seja em redes de ideias ou pessoas que imitem as redes neurais de uma mente que explora os limites do possível adjacente. Certos ambientes acentuam a capacidade natural do cérebro de estabelecer novos elos de associação.
A INTUIÇÃO LENTA
Podemos aprender sobre a história da inovação examinando grandes ideias que mudaram o mundo. De fato, a maioria das histórias intelectuais está estruturada exatamente dessa maneira, uma narrativa de grandes descobertas, momentos de insights e estalos que tiveram um impacto transformador na sociedade humana.
Insights genuínos dificilmente acontecem, é desafiador imaginar um plano terrorista para jogar aviões de passageiros contra prédios, ou inventar um computador programável. Por isso, a maioria das grandes ideias se configura primeiro de uma forma incompleta. Elas têm a semente de algo profundo, mas falta-lhes um elemento decisivo que pode transformar o palpite em algo de fato poderoso.
E muitas vezes esse elemento que falta está em algum outro lugar, vivendo sob a forma de uma intuição na cabeça de outra pessoa. As redes líquidas criam um ambiente em que essas ideias parciais podem se conectar; formam uma espécie de agência de encontros para intuições promissoras. Elas facilitam a distribuição de boas ideias, é claro, mas também fazem algo mais sublime: ajudam a completar ideias.
Manter viva uma intuição lenta envolve desafios em múltiplas escalas. Em primeiro lugar, temos de preservar a intuição em nossa memória, na rede densa de nossos neurônios. A maior parte das intuições lentas nunca dura o bastante para se transformar em algo útil, porque entra e sai de nossa memória muito rápido, justamente por apresentar certa obscuridade. Temos a impressão de que há uma possibilidade interessante a explorar, um problema que poderia nos levar um dia a uma solução, mas depois nos distraímos com assuntos mais imediatos e a intuição desaparece. Por isso, parte do segredo de cultivar intuições é simples: anote tudo.
ERRO
“Os erros da grande mente superam em número os da mente menos vigorosa.” Isso não é apenas estatística. Não significa que os pensadores pioneiros sejam simplesmente mais produtivos que os menos “vigorosos”, gerando mais ideias ao todo, sejam boas ou ruins. Alguns estudos históricos de registros de patentes mostraram de fato que a produtividade total está relacionada às descobertas radicais em ciência e tecnologia, que a simples quantidade conduz por fim à qualidade.
Em "A estrutura das revoluções científicas", Thomas Kuhn desenvolve uma argumentação semelhante em favor do papel do erro. Segundo ele, as mudanças de padrão começam com anomalias nos dados, quando os cientistas constatam que suas previsões continuam se revelando erradas.
Quando Joseph Priestley pôs uma hortelã pela primeira vez sob uma redoma para privá-la de oxigênio, esperava que a planta morresse, como acontecia com os camundongos ou as aranhas nas mesmas circunstâncias. Mas ele estava errado: a planta se desenvolvia. Na verdade, a planta prosperava, mesmo quando se queimava todo o oxigênio existente sob a redoma antes de introduzi-la ali.
O erro de Priestley estimulou-o a investigar esse estranho comportamento e acabou por levá-lo a uma das descobertas fundamentais do que hoje chamamos de ciência dos ecossistemas: a compreensão de que as plantas expelem oxigênio como parte da fotossíntese e de fato criaram grande parte da atmosfera da Terra. Nas palavras de William James: “O erro é necessário para fazer surgir a verdade, mais ou menos como é preciso um pano de fundo escuro para exibir a luminosidade de uma pintura.”
Quando estamos errados, temos de desafiar nossas suposições, adotar novas estratégias. O erro por si só não abre novas portas para o possível adjacente, mas força a procurá-las. O problema do erro é que temos uma tendência natural a desprezá-lo. Quando Kevin Dunbar analisou os dados de seus estudos in vivo em laboratórios de microbiologia, um de seus achados mais notáveis foi a grande quantidade de experimentos que produziam resultados realmente inesperados.
Mais da metade dos dados coletados pelos pesquisadores desviava significativamente do que eles haviam previsto encontrar. Dunbar descobriu que os cientistas tendiam a tratar esses resultados surpreendentes como consequência de falhas em seu método experimental: talvez algum tipo de contaminação do tecido original, ou um mau funcionamento mecânico, ou um erro na fase do processamento de dados. Viam nele um ruído, não um sinal. A transformação do erro em insight revelou-se uma das funções essenciais das reuniões de laboratório.
EXAPTAÇÃO
O conceito de exaptação é decisivo na prova do clássico argumento bíblico (hoje muitas vezes chamado de “projeto inteligente”) contra o darwinismo, argumento que remonta ao furor que envolveu a publicação do livro A origem das espécies: se exemplos extraordinários de engenharia natural como olhos ou asas não são produto de um criador inteligente, como puderam esses traços sobreviver ao longo do que deve ter sido um estado de desenvolvimento de pronunciada não funcionalidade?
Enquanto se desenvolve, a asa precisa passar, por definição, por um longo período em que é completamente inútil para voar. (Como diz um ditado: “De que valem 5% de uma asa?”) Como a seleção natural não “sabe” que está tentando construir uma asa, não pode impulsionar essas asas primitivas rumo à meta final de voar como um engenheiro mecânico pode fazer com um aeromodelo até que ele decole.
Se essa asa inicial não ajuda uma ave a voar, permitindo-lhe assim levar a melhor sobre seus predadores ou descobrir novas fontes de alimento, as novas mutações que tornaram esse complemento ligeiramente mais parecido com uma asa não terão uma probabilidade maior de se espalhar pela população. A seleção natural não dá prêmios por esforço.
Mas, quando pensamos em inovações evolucionárias em termos de exaptação, a história se torna muito menos misteriosa. Mais uma vez, acaso e felizes coincidências ganham um papel central na narrativa: mutações aleatórias levam à evolução de penas selecionadas para fins de aquecimento, e por acaso elas se revelam úteis para o voo, em particular depois de modificadas para criar um aerofólio.
Por vezes essas exaptações tornam-se possíveis porque outras delas estão acontecendo no seio da espécie, que a própria asa é uma exaptação de um osso do pulso de um dinossauro, adaptado originalmente para fins de maior flexibilidade.
PLATAFORMAS
A construção de plataformas é, por definição, uma espécie de exercício de um comportamento que surge. Embora o minúsculo pólipo escleractíneo não esteja ativamente empenhado em criar uma Las Vegas submersa, seu incessante trabalho assimilando algas e aqueles esqueletos de aragonita, gera um sistema de nível mais elevado. O que havia sido um trecho muito desolado de água do mar pobre em nutrientes é transformado num resplandecente foco de atividade.
As plataformas mais transformadoras surgem em pilhas, de maneira notória no caso da plataforma em camadas da web. (A expressão “pilha de plataformas” é ela mesma parte da linguagem comum da programação moderna.) A web pode ser imaginada como uma espécie de sítio arqueológico, com camadas sobre camadas de plataformas enterradas sob cada página.
Tim Berners-Lee conseguiu projetar sozinho um novo meio porque pôde construir livremente sobre as regras abertas da internet. Não teve de construir um sistema inteiro para que a comunicação entre computadores se espalhasse por todo o planeta, esse problema já havia sido resolvido décadas antes.
Até as artes criativas se desenvolvem por meio de plataformas empilhadas. Isso pode parecer surpreendente, dada nossa tendência a evocar a imagem do gênio artístico individual, isolado em seu ateliê, criando todo um mundo novo em sua cabeça a partir do zero. Por razões compreensíveis, gostamos de falar sobre inovações artísticas em termos do modo como elas rompem as regras, abrem novas portas no possível adjacente que mentes inferiores nem sequer chegam a ver, mas gênios precisam de gêneros.
No mundo on-line, o estudo de caso recente mais celebrado sobre o poder inovador de plataformas empilhadas foi a rápida evolução do Twitter. Um dos maiores fatos com relação à plataforma do Twitter é que a grande maioria de seus usuários interage com o serviço por meio de softwares criados por terceiros. Centenas de aplicativos de iPhone e BlackBerry lhes permitem manejar seus feeds do Twitter, todos criados por programadores amadores e pequenas startups.
CONCLUSÃO
As ideias surgem em grande quantidade, como disse Poincaré. Elas surgem em redes líquidas em que a conexão é mais valorizada que a proteção. Assim, se quisermos construir ambientes que gerem boas ideias, quer eles se estejam em escolas, empresas, governos ou em nossas vidas pessoais, precisamos manter essa história em mente, e não recair nas suposições fáceis segundo os quais mercados competitivos são a única fonte confiável de boas ideias.
Sabemos que a maioria das pessoas não podem influenciar diretamente na determinação de quais macroestruturas de informação e organização econômica prevalecem na sociedade mais ampla, embora cada um influencie esse resultado de maneira indireta, mediante um ato básico de escolher entre um emprego no setor privado ou no setor público. Mas essa é a beleza da perspectiva do zoom longo: os padrões retornam em outras escalas.
Talvez não sejam capazes de transformar o governo num recife de coral, mas podem criar ambientes semelhantes no limite da vida cotidiana: nos nossos locais de trabalho, no modo como consumimos mídia, na maneira como aumentamos nossa memória. Os padrões são simples, mas, se adotados juntamente, ajudam a criar um todo mais sábio que a soma de suas partes.
Faça uma caminhada, cultive intuições, anote tudo, mas mantenha suas pastas em desordem, abrace o que é descoberto por acaso, cometa erros produtivos, cultive diversos hobbies, frequente cafés e outras redes líquidas, siga os links, permita que outros se baseiem em suas ideias, tome emprestado, recicle, reinvente. Construa uma ribanceira misturada de ideias.