Lucas Rabêlo 16/02/2024
Solidão solidária
Franz Kappus, jovem e prolífico poeta, contata outro escritor, este de cunho quase heróico, para a solução de seu rascunho literário. A guinada é a reativa do destinatário: a vida não tem receita. Rainer Maria Rilke, nome gigante da literatura alemã, é o socorrista da odisseia de Kappus, que está desacreditado de sua arte, imatura e indizível, mas fremente de espírito.
De 1903-1908, foram trocadas inúmeras cartas contendo a transmissão de vivência do poeta maior para o discípulo. As dez mais recorrentes seguem neste livro, recolhidas e compiladas à vontade de Kappus, conforme a importância para a contextualização de um crescimento vindouro.
Rilke, humilde, humano, se atem à grandeza da solidão e da natureza intrínseca como essenciais para o autoconhecimento de cada corpo e sentença. Enquanto um mestre para Kappus, não lhe dedica exatamente uma cartilha didática de redação, mas da nuance simplista da vida que o compele.
É apenas uma chama da potência de um literato robusto, ressurgido à vida neste material quando do lançamento, já morto, ainda sagaz, para o seu interlocutor, para os seus leitores. Daqueles textos que nunca poderiam se ater a um remente apenas. Inesquecível.
"Falando novamente em solidão, torna-se cada vez mais evidente que ela não é, na realidade, uma coisa que nos seja possível tomar ou deixar. Somos nós."