Paulo 29/03/2022
Epístolas da vida
Trata-se das cartas trocadas entre Rilke e o jovem Franz Xaver Kappus entre os anos de 1903 e 1908.
Na primeira carta, Rilke fala sobre alguns versos que lhe haviam sido enviados por Kappus. Seu conselho é: “volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever?"
Para Rilke, na fase de aprendiz em que seu jovem correspondente se encontrava, não importava a qualidade dos textos, mas sim a sinceridade, a autenticidade e a pessoalidade deles. Se a escrita se voltasse para o interior das profundezas da vida do poeta, isso bastaria: a opinião de terceiros seria totalmente irrelevante.
Nessa primeira carta há ainda bons conselhos práticos: aproximar-se da natureza; dizer o que vê e vivencia e ama e perde; não escrever poemas de amor; evitar as formas usuais e muito comuns; acolher o cotidiano; resgatar a infância; e, fundamentalmente, escrever com sinceridade e voltar-se para si mesmo.
Nas demais cartas, há conselhos de diversas ordens, tais como maneirar no uso da ironia, ler a Bíblia e J.P. Jacobsen, cultivar a solidão e usar a dúvida para atingir o saber crítico.
Nas diversas epístolas, Rilke fala sobre a vida, sobre amores, sobre Roma e arremata: “Deixe a vida acontecer. A vida tem razão em todos os casos.”
É um bom livro motivacional e inspirador, que fala da descoberta da vocação e da conduta de vida que deve ser adotada a partir de então. Segundo Rilke, se você realmente precisar escrever, deverá ajustar toda a sua vida de acordo com essa necessidade, inclusive os momentos mais indiferentes e irrelevantes.
Atualmente, a seriedade e comprometimento almejadas por Rilke raramente são observados pelos aspirantes a escritores e mesmo por artistas já experimentados, os quais se veem fragmentados diante das diversas possibilidades de vida e formas de expressão do mundo contemporâneo. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais a genialidade artística seja cada vez mais incomum.