Regis2020 13/11/2023
"Delírios do racional"
Esse é um livro de histórias curtas publicado em 1949 e é considerado pela crítica um dos pontos culminantes da obra de Jorge Luis Borges.
O conto O Aleph, que dá nome ao livro, é o último da coletânea; e Aleph é também a primeira letra do alfabeto hebraico.
Hábil com as palavras, Jorge Luis Borges consegue nos introduzir em uma realidade mística e insólita onde questões metafísicas permeiam nossa mente a cada conto lido.
Os labirintos rondam a mente e a escrita do autor, fazendo-se presentes em suas histórias, despertando a curiosidade e o fascínio de quem lê: "Um labirinto é uma casa edificada para confundir os homens; sua arquitetura, pródiga em simetrias, está subordinada a esse fim."
O primeiro conto, O Imortal, é assombrosamente deslumbrante! A realidade entrelaça-se com a ficção de forma fantástica, criando um universo ilusório onde vida e fantasia se confundem. A procura do personagem Marco Flamínio Rufo, tribuno de uma das legiões romanas, pela secreta cidade dos imortais e a vida eterna é contada de uma maneira que fica claro o efeito que a imortalidade causaria nos homens, e essa percepção nos faz penetrar na história, participar e vivenciar o desespero de sua busca anômala.
Os outros contos também são magistralmente escritos. Destaque para A Casa de Asterion: que em sua curta simplicidade sempre me faz chorar ao perceber a solidão infinita que fez parte da vida do Minotauro e em como a monstruosidade que a soberba e o erro de seu pai (o rei Minos) fez cair sobre ele, não é sua culpa.
Vê-lo vagando por aquele labirinto infinito criando jogos e amigos imaginários para suportar a solidão é, de certo modo, devastador de ler. Já li esse conto várias e várias vezes, mas todas as vezes meus olhos vertem lágrimas pela triste existência de Asterion. Além de sua prisão física, Borges evidência a prisão sem muros que o envolve tornando sua inocência em não percebê-la, o martírio de sua vida.
Conheci Borges através desse conto e sua escrita e sensibilidade me ganharam de imediato.
Borges nesses 17 contos aborda temas universais que desde sempre estiveram presentes na sua escrita, tornando seus livros fontes de sonhos e labirintos infinitos envoltos pelo fantástico. A solidão, a filosofia, a metafísica, a mitologia, a teologia, batalhas, guerras e o tempo fazem parte de suas historias tornando-as um reduto fantástico para os leitores do comum e do inusitado. Recomendo para todos esse grande autor.