Lucas1429 19/01/2024
O livro possui várias alegorias, das quais se destacam a dissimulação do discurso manipulador e as referências da história do Brasil da época de Dom João. O realismo de Machado de Assis nos traz neste livro a ideia já esperada da eterna luta dos casais românticos em que há o componente do ciúme e do engajamento dos personagens para ora trazer o leitor ao convencimento, ora para levá-lo de volta á dúvida sobre a trajetória de fidelidade da trama. Revela-se então o mais do clichê presente no realismo, o adultério. É certo que, ao analisar o conteúdo da conclusão e do fim da história narrada, vê-se que o autor passa uma mensagem de que não existe homogeneidade no relacionamento predisposto ao puro amor, ao romantismo. Posto que mostra antes a dissolução da união dos personagens, desacreditando de quaisquer crenças amorosas que tratam da perenidade sentimentalista de um amor duradouro, ou mesmo de uma paixão que atravessa o tempo. Não há portando tal realidade. O que se mostra é que quando existem os componentes familiares que coabitam o ambiente de um homem e uma mulher em desenvolvimento, onde estes se descobrem apaixonados por fim, é verificada a possibilidade inexorável tanto de um relacionamento futuro, quanto da destruição deste por uma das partes, também no futuro. Outra característica do livro é o embasamento literário. O livro se utiliza de Shakespeare referenciando o livro "Otelo". Onde traz a história amorosa entre Otelo, Desdemona e Iago. Também ao livro de Eça de Queiroz "Primo Basilio" onde sutilmente traz ao leitor a ideia de que há um tanto de Luiza em Capitu. Porém, diferentemente da própria Capitu, as demais se utilizavam da literatura romancista e dos benefícios da burguesia para darem ao seu fastio à mera desculpa para a traição, não obstando-se porém da intenção de desculpas e do posterior remorso a que vieram a sentir antes da morte. Capitu, no entanto, não se utiliza de literatura para tais avanços. Ela própria cresceu com esperteza de mulher e com personalidade que favorecia a "dissimulação" segundo José Dias. Faz-se portanto chegar ao leitor às impressões de uma mulher que possui tanta capacidade para amar, quanto para manipular. O narrador e personagem, Betinho, possui todos os arquétipos de um ciumento contumaz e um possível desequilibrado e melancólico irreparável. Levou essa característica até os últimos capítulos não deixando de lado todas as reflexões possíveis sobre os passos que deu diante do amor, das desconfianças e de suas intenções ao longo do livro. Também verificamos algo importante. Pelo fato do livro ser narrado, neste caso pelo Dom Casmurro agora velho, o velho agora olhando para sua vida enquanto jovem. E por este olhar mais velho, mais maduro ele agora consegue enxergar a verdade, mais do que via antes, que não era aquele possível amor inquestionável, mas a realidade do fato de ter tido uma esposa e um melhor amigo que foram adúlteros e tiveram um filho e vendo-se ele mesmo nesta conclusão de vida triste, sozinho, solitario, ele faz através da sua fala com que o leitor credibilize sua alcunha de "Casmurro" ou seja, de coitado, de traído, de velho e ultrapassado pelos demais que lamenta a própria sorte. Outro fato tão importante quanto o último. O Bentinho é advogado, um advogado contando sua história agora por volta dos 55 anos, e a maior virtude de um advogado é justamente a de fazer parecer um criminoso ser inocente, ou um inocente parecer criminoso através do poder de manipulação do discurso, neste caso, da narração. Examinando-se os nomes dos personagens por exemplo, estamos lendo a história de um homem chamado BENTO e uma mulher chamada CAPITOLINA. Por simples assimilação podemos ver que a personagem á Capitólio, o centro do poder é da riqueza do império romano, onde a principal característica era justamente a manipulação de pessoas por dinheiro e poder. Tanto essa marca romana se faz presente no livro que vemos em um dos capítulos que Bento manda construir uma casa e no centro da sala, nas paredes ele coloca os retratos de 4 imperadores romanos que foram traídos, ou seja, ele mesmo se cerca da atmosfera de traição na trama para a posterior acusação da mulher. Capitu por sua vez, a mérito do próprio nome, também defende os próprios interesses. Na análise mais fina vemos Bento como o Santo e Capitu como um "capeta", ou alguém mau intencionado. No entanto o autor nos apresenta no próprio sobrenome do personagem principal uma dúvida crucial: seu nome é BENTO DE ALBUQUERQUE SANTIAGO, voltanto à Otelo, temos novamente a figura de Iago, o personagem mais falso manipulador e mentiroso desta literatura. Ou seja, por tras de Bentinho e desta mascara de santidade , esconde-se Iago, o mentiroso. As grandes perguntas que ficam são: Betinho nos traiu? Ou foi Capitu que o traiu de fato?