Rodrigo 21/12/2020
Fim da leitura e do trauma.
Sim, meu caro amigo, eu confesso. Nunca tinha lido uma obra de Machado de Assis na vida, por culpa de um trauma ginasial. Uma professora me obrigou a ler Brás Cubas com apenas 10 anos de idade, e, obviamente, o português rebuscado da obra, além de não me ter favorecido em nada o entendimento, gerou-me uma repulsa machadiana que perdurou até os dias atuais. Enfim, é com imensa satisfação que anuncio o fim do trauma.
Bobagem seria redigir um parágrafo, como sempre faço de praxe, para descrever uma ideia inicial da leitura recém-encerrada, posto que Dom Casmurro dispensa introdução, em se tratando de uma obra-prima da literatura brasileira. Apenas deixo aqui a minha gratidão por ter sido apresentado a uma época muito remota, onde as pessoas andavam de bonde com tração animal no centro do Rio e um certo imperador era admirado por seus súditos.
Contudo, ainda que me encontre feliz pelo êxito da leitura, também deixo registrado minha queixa ao autor, pela feia mania de constantemente fugir do enredo central, uma vez já bem consolidado lá pelo meio do livro, para, como se quisesse “engrossar” a obra e assim fugir de críticas, inserir uma enxurrada de capítulos que em nada contribuíram para a trama amorosa protagonizada por Capitu e Bentinho. Essa feia mania lhe custou a perda de uma estrela.
Por fim, sobre a pergunta que atravessou décadas: Teria Capitu traído Bentinho? Na minha humilde opinião, não há como ter certeza, e não irei a partir daqui justificá-la, sob o pretexto de não dar spoilers, mas alego em minha defesa que obriguei-me a reler capítulos-chave a fim de nortear meu veredito, sem, contudo, chegar a uma conclusão plausível. Apenas relato o sentimento de desamparo que me bateu ao acompanhar dolorosamente a ruína de um casamento sólido e feliz, independentemente de ter havido ou não a suposta traição. Ficou decretada, para Bentinho e Capitu, a vitória do orgulho ferido sobre o amor conjugal. Talvez, nos dias de hoje, a estimada mãe de Bentinho fosse até capaz de voltar do além-túmulo para, numa noite de pesadelo, chamar-lhe de babaca... Vai saber...