legarcia 18/07/2022
A degradação da moralidade
Álvares de Azevedo é um autor o qual ocupa um lugar muito peculiar na história da literatura brasileira. É o caso de um gênio precoce que, não obstante a qualidade excelente de suas obras, por ter tido uma vida muito breve, estas expressavam um pouco das confusões e imaturidades naturais da pouca idade.
Em ?Macário e Noite na tarverna?, é possível perceber bem a cosmovisão pessimista do autor: considerando que ele consumia majoritariamente a literatura europeia, com destaque à francesa, a qual na época era marcada por um melancolismo profundo, resultado de todo o contexto político e social da Europa.
Há uma desconformidade entre o mundo concebido por Macário e o que de fato é a sua realidade. Essa não aceitação de suas circunstâncias é o que abre espaço para o aparecimento de Satã na vida do personagem.
A relação de Macário com o Diabo é muito interessante, uma vez que este apenas dialoga com aquele e o vence pelas próprias fraquezas do menino, atuando quase como um tutor. O desprezo, o ceticismo e descrença pela realidade matam o lado bom de Macário, representado no texto como a morte de Pensaroso.
Fica evidente na história que Satã tem a experiência da vida e conhece a alma humana, em constraste com o personagem principal, o qual é um jovem perdido e cético. Este será corrompido por sua própria fraqueza e imaturidade.
A experiência de ler ?Macário e Noite da taverna? é muito boa, já que é claro as conexões entre os dois textos. Em ?Noite na taverna?, os personagens, diferente de Macário que está caminhando à sua perdição, já estão totalmente degradados. A primeira cena, na qual é apresentado o ambiente da tarvena, é um ótimo retrato do melancolismo do auor: homens perdidos e com tédio, bebendo em um bar com mulheres ao redor.
Tendo esse cenário em vista, a obra é construída por contos, cada um narrado por um dos homens presentes na roda. As histórias são macabras e muito pesadas, é uma reunião de episódios tétricos. É como se o autor, para compreender o que é verdadeiramente humano, opõe seu olhar ao que é bom e degrada a narrativa ao ponto mais imoral do ser humano.
Ademais, Álvares de Azevedo era um jovem muito erudito e utiliza-se da erudição, muitas vezes, de forma exagerada nessa obra, principalmente no prefácio, o qual é tão recheado de referências literárias e filósoficas que tornam-o excessivamente complexo. Essa questão é amenizada com observações em rodapés, o que auxiliou-me muito durante a leitura.
Entretanto, é inegável que estamos tratando de um escritor de grande magnitude e qualidade, ainda mais quando ressaltamos que foi alguém que escreveu durante sua adolescência e começo da juventude. A leitura desses textos é muito agregadora e dá espaço para muitas reflexões existenciais.