Vitória 27/07/2022
Esse foi um livro que desgraçou a minha cabeça, e aqui já vou deixar uma autocrítica: preciso parar de pegar livros malucos um atrás do outro. Entre essa leitura e a que estou fazendo agora (um mar sem estrelas), tive apenas o descaso proporcionado por um romance (kyland). Se as coisas piorarem, enviarei a conta das minhas sessões de terapia às autoras, porque ainda por cima são duas mulheres que sabem como me atingir no ponto certo.
Esse foi meu primeiro contato com a Joyce Carol Oates, e sinceramente nunca vi antes algo parecido com o que essa mulher faz aqui. O livro é claramente baseado no caso real da JonBenét Ramsey, mas a autora já deixa claro numa nota que essa é uma história fictícia. Tudo é muito parecido, mas a autora conseguiu me colocar tão dentro da narrativa, foi uma experiência tão imersiva, que eu logo deixei o caso da mini miss de lado e só queria saber o que ia acontecer aqui. Inclusive, a leitura fluiu bem demais por causa disso.
O narrador dessa história foi o motivo de mais da metade dos meus surtos. Logo no início eu tive muito estranhamento com ele, porque o menino tá narrando o negócio em primeira pessoa e, do meio de uma frase pra outra, começa a se referir a ele mesmo na terceira pessoa. Eu cheguei a pensar que tínhamos mais de um narrador, e que a divisão entre eles só não estava clara pra mim, mas o Skyler em algum momento confessa o que está fazendo pro leitor. Só que esse não foi o fim dos meus surtos. Skyler não é um narrador confiável, e faz questão de deixar isso claro pra gente, então eu nem sei explicar o que senti vendo um crime ser narrado por uma pessoa que eu não sabia se estava me contando a verdade ou não. Agora, já tendo terminado tudo, eu consigo ver que grande parte das coisas que ele fala aqui são verdade, mas a autora é tão genial que coloca suposições dele no meio da narrativa, que a gente sabe que são só suposições, só pra fazer com que o leitor fique mais confuso. Quando a gente descarta uma pessoa como suspeita, o Sky começa com a conversa de "mas ela tinha motivos, ela fez tal coisa que eu não contei pra você, mas aconteceu, porque tem muita coisa que eu não tô te contando", e era aqui que o meu cérebro dava erro.
Todo o livro é extremamente bem construído. Mesmo antes de estarmos sequer perto do crime acontecer, a autora consegue deixar a história interessante de outras formas, mostrando a relação tóxica dos pais com o Skyler e a Bliss, toda a mudança que foi na cabeça do Sky ter uma irmã, a relação da família deles com a vizinhança, tentando a todo custo conseguir uma posição de destaque na comunidade, os problemas psicológicos do Sky e os relacionamentos que ele tinha na escola. Pode parecer que são só cenas de cotidiano, e vou te dizer que são só isso mesmo, mas essa mulher coloca sei lá qual coisa aí no meio, que faz com que a gente simplesmente não consiga largar o livro. Só pra vocês terem uma noção, eu levei o livro pro cinema e fiquei lendo na sala enquanto o filme (elvis) não começava.
Depois que o crime acontece, tudo que já era bagunçado vira um completo caos. Vou confessar que o ritmo caiu um pouquinho nessa parte, mas eu também já estava esperando por isso, afinal um dos grandes clímax já tinha passado, só faltava descobrir quem de fato tinha matado a Bliss, e nesse ponto eu até pensei que isso seria algo que eu nunca descobriria, porque me pareceu que o livro não era unicamente sobre isso (e de fato não é). Mesmo assim, aqui a autora faz críticas a clínicas de reabilitação para jovens (que creio que era um assunto muito mais em alta na época em que o livro foi publicado do que agora, vide Britney e as estrelas da Disney em 2007), e ao fato de pessoas tentarem lucrar em cima de assuntos que não deveriam, em momento algum, servir como ganho de dinheiro.
Confesso que a grande revelação do criminoso não foi uma surpresa pra mim, mas acho que, qualquer que fosse o assassino eu não conseguiria ficar surpresa, porque eu desconfiei de absolutamente todo mundo nesse negócio, e a culpa é do Skyler. A Joyce era uma autora que eu queria ler há tempos, mas que estou satisfeita de só ter lido agora, não sei se a Vitória mais jovem estaria preparado pra toda a carga que esse livro me entregou, ou se ela saberia digerir tudo isso da forma correta. Já tenho outros livros dela no meu radar, principalmente a biografia da Marilyn, mas acho que só conseguirei encarar esses dois volumes no próximo ano, antes preciso me recuperar desse e passar algum tempo me preparando pras outras maluquices que essa mulher tem pra fazer com a minha cabeça.