Rodrigo1001 25/01/2024
A solidão como protagonista (Sem Spoilers)
Título: O Coração é um Caçador Solitário
Título original: The Heart is a Lonely Hunter
Autor: Carson McCullers
Editora: Carambaia
Número de páginas: 368
Homens e mulheres desesperados por comunhão, quase inflamados pela necessidade de compreensão, vagam pelas ruas de uma cidade do sul dos Estados Unidos em "O Coração é Um Caçador Solitário", o primeiro romance de Carson McCullers, publicado em 1940.
Límpido em prosa, o livro traça a turbulenta vida interior de um alcoólatra sufocado pela injustiça social, de um médico negro cuja elevada visão moral alienou sua família, de uma adolescente andrógina apaixonada por música clássica e de um senhor mudo a quem cada um destes personagens recorre em busca de companhia.
É uma viagem humanizadora e singela.
O livro versa, basicamente, sobre a solidão. Os personagens, em sua maioria isolados, não podem ou não querem expressar os seus anseios. Quando o fazem, suas paixões os dominam e os resultados são constrangimento e maior alienação. Em desespero, cada um recorre a John Singer, um mudo de olhos gentis, que transforma sua simpatia passiva em compreensão profunda. Para cada um, ele se torna o companheiro solidário sem o qual a vida seria cruel demais para ser suportada.
Tendo como pano de fundo a crise econômica e a ascensão de Hitler ao poder na Europa, conflitos, exclusões e o ódio entre brancos e negros são onipresentes. A autora descreve cada personagem de forma bastante sentimental, quase etérea e com grande sensibilidade. O elemento de ligação é sempre o vazio interior e a capacidade ou incapacidade de lidar com o medo. Um livro psicologicamente exigente, cujo significado e direção não ficam exatamente claros para o leitor.
Ao terminar a leitura, para mim, o livro irradiou uma profunda sensação de desesperança. Presos num ciclo, os personagens se movem como hamsters sobre rodas. Um livro elegíaco que serve um banquete para leitores sensíveis que, ao final, fecham o livro profundamente afetados pela visão do mundo interior dos personagens.
Ainda assim, devo dizer, fornece muito o que pensar - e é precisamente esta ressonância que torna a leitura tão gostosa.
Leva 3.5 de 5 estrelas.
Passagem interessante:
"Como os mortos podem estar verdadeiramente mortos quando eles ainda vivem nas almas daqueles que são deixados para trás?"