Ana Paula 18/03/2010
DHL by Ana Six
Achei o livro curioso, em especial por ter sido proibida a sua veiculação na Inglaterra de 1926. Foi considerado obsceno e incriminado pelo Decreto de Publicações Obscenas de Londres.
O autor morreu sem saber que seu livro seria mais tarde considerado um dos cem melhores romances do século. Concordo com essa classificação, o livro, de fato, é muito bom. Num primeiro momento, o livro fala de amor, mas Lawrence fui muito além da história clássica de infidelidade, ele contextualizou o romance com as questões políticas e literárias da época nos diálogos dos personagens.
Ele trata da história de Constance, uma jovem escocesa que se apaixona e se casa com o baronete Clifford Chatterley. Após a lua de mel ele vai lutar na Primeira Guerra Mundial e volta para casa paraplégico. Sabendo da sua atual situação, o marido diz à esposa que ela pode encontrar um amante e lhe dar um filho.
No início, achei curioso o desapego de Clifford para com a sua esposa. Ele seria capaz de aceitá-la dormindo com outro desde que não o abandonasse, e ainda, criaria um filho de outro homem como se seu fosse. Me parece um pouco de altruísmo demais num único homem. Será que isso aconteceria, de fato, na vida real?
Constance, a princípio, se recusa a procurar um amante e casta, mantém-se submissa a cuidar do marido inválido, até se envolver com Olive Mellors, o guarda-caça da família. O cenário do livro se passa em Wragby, local onde se demonstra a transição entre o ruralismo e a industrialização. O lugar possui uma mina de carvão, onde a classe operária trabalha insanamente até não terem suas forças exauridas.
O autor faz críticas ao modelo capitalista da época e aparentemente odiava a relação criada com o homem e o dinheiro. Mellors o amante de Constance, por exemplo, demonstrava ser avesso ao capitalismo, achava que o dinheiro escravizava o homem e lhe tirava todas as virtudes. Seu trabalho consistia em criar faisões, uma vez que na propriedade de Clifford ninguém caçava. E ele era feliz assim.
É do romance entre Constance e Mellors que Lawrence descreve as cenas de sexo dos amantes. Ele glorificava a alegria dos corpos durante o sexo, o que para ele é uma das leis mais importantes da natureza.
Lawrence fala de sexo em seu livro com naturalidade, o que de fato, deve ter chocado a sociedade dita puritana do início do século passado. Mas não achei qualquer vulgaridade ou obscenidade em seu texto, muito pelo contrário! As cenas de sexo descritas se passam entre um homem e uma mulher que se apaixonam e demonstram a intimidade e a cumplicidade partilhada pelo casal.
É engraçado notar o avanço que alcançamos do início do século passado até hoje. Vejo com felicidade que muito da hipocrisia que existia no passado já ficou para trás e que se na época o livro foi considerado uma desonra, hoje ele se tornou um clássico da literatura. Sensual, é verdade... mas ainda assim, um clássico.
: : TRECHO : :
“Constance parecia transformada em mar, ondas que se inchavam e subiam em surtos impetuosos até que, lentamente, toda a massa obscura entrasse em ação – oceano a palpitar sua sombria massa silenciosa. E lá embaixo, no fundo dela, as profundezas do mar se separavam e rolavam lado a lado com o centro onde o mergulhador imergia docemente mais fundo; e ela se sentia alcançada cada vez mais no fundo, e as ondas de si mesma iam rolando para alguma praia, deixando-a descoberta; e cada vez para mais longe rolavam, e a abandonavam, até que, de súbito, numa delicada convulsão, o mais vivo do seu espasmo foi alcançado; ela o sentiu alcançado – e tudo se consumou: seu “eu” esvaiu-se; Constance não era mais Constance, e sim apenas mulher.” Pg. 215