Maira Giosa 15/10/2024Eu definitivamente não estava esperando encontrar no romance de D. H. Lawrence um tratado complexo sobre o s3x0. Esperava, sim, encontrar um romance mais picante, um Jane Austen mais ousado... E, de certa forma, O Amante de Lady Chatterley é isso, mesmo. Apesar de ter sido duramente criticado à época de seu lançamento - a ponto de ter sido banido em vários países - a obra é mais suave do que muitos romances "hot" de hoje em dia.
Talvez uma adolescente que leia erotismo pela primeira vez ainda se sinta enlevada (ou chocada), principalmente pelo uso da linguagem chula de Lawrence. Mas essa, segundo a premiada escritora Doris Lessing - que assina a introdução dessa edição da @penguincompanhia - é exatamente a intenção do autor.
Eu escrevi uma análise mais profunda sobre as minhas impressões do livro, que vocês podem ler na íntegra no Medium (o link está no meu linktree, na aba "Contos e Histórias"). Porque, muito além do triângulo estabelecido pelos personagens principais Connie Chatterley, Sir Clifford e Oliver Mellors, a história que Lawrence conta é apenas um pretexto para desafogar seus sentimentos a respeito das mudanças pelas quais passava a Inglaterra no período entreguerras.
Uma das coisas que ele lamentava era a destruição da Inglaterra rural pelas minas de carvão e as indústrias bélicas que alimentaram o país durante a Primeira Guerra — pensamento, inclusive, partilhado pelo contemporâneo J. R. R. Tolkien. Apesar do torvelinho de informações contraditórias e que hoje seriam consideradas politicamente incorretas (para dizer o mínimo), ainda assim é muito interessante ler sobre um autor desse período preconizar discussões sobre o corpo e a quebra de tabus que ganharam força somente nos anos 70.
Então apesar das contradições e posições ideológicas polêmicas, acredito que esse romance deve ser lido, sim. Não precisamos concordar com o autor, muito menos gostar do que ele escreve, mas é importante entender o contexto no qual ele escrevia, e o que exatamente ele pretendia.
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