@fabio_entre.livros 21/11/2016
A prosa simplória do interior
Recordando alguns romances regionalistas que já li, lembro com relevância de “Cabocla”, de Ribeiro Couto, um livro tão agradável e singelo (tanto na história quanto na linguagem) que me arrebatou com sua simplicidade. Quando adquiri a edição da Ediouro, com apenas 80 páginas, cheguei a pensar que era uma adaptação, mas não é. Essa edição não apenas possui o texto integral como também uma pequena biografia do autor e uma introdução de Afrânio Coutinho. O que ocorre é que a diagramação e o projeto gráfico em geral do livro são muito simples, de modo que o texto é “espremido” para caber em tão poucas páginas e economizar papel.
A trama de “Cabocla”, parcialmente conhecida devido às adaptações televisivas em forma de novela global, narra a história de Jerônimo, estudante abastado que leva vida de típico bon-vivant no Rio de Janeiro. Acometido por uma doença pulmonar, ele cogita a possibilidade de repousar na Europa, mas acaba por ir descansar em um lugar bem mais próximo: Vila da Mata, um lugarejo onde seu pai possui conhecidos e amigos. Nessa região rural ele conhece Zuca, a filha de um casal que vive e trabalha na estaçãozinha de Pau D’Alho.
Em termos narrativos, “Cabocla” me fez lembrar um pouco Guimarães Rosa, particularmente a ambientação e caracterização de alguns textos de “Sagarana”, embora Ribeiro Couto não adote malabarismos linguísticos como aquele autor. Ao invés disso, sua narrativa é fluída e simples, refletindo com clareza os sentimentos de Jerônimo (posto que a história é contada em 1ª pessoa) e a fascinação gradual que aquele universo bucólico exerce sobre sua saúde e sobre todo o seu ser.
Ao narrar a “purificação” de Jerônimo, Ribeiro Couto constrói uma idealização sobre a vida rural, em contato direto com a natureza, e apresenta-a como uma espécie de caminho para a felicidade. Naturalmente, não se trata da felicidade como sinônimo de plenitude absoluta e utópica, mas como algo mais palpável, uma vez que se baseia na valorização de pequenos (embora significativos) prazeres: o ar puro do campo, a comida caseira, conversas com gente simplória e, acima de tudo, o amor da bela e pura morena do interior.
Com essa idealização, o autor resgata valores românticos e apresenta uma história singela, de leitura rápida e linguagem ágil: um retrato estilizado do Brasil rural que me agradou tanto quanto “Inocência”, de Alfredo Taunay.