Rafael 10/09/2023
Um convite a sonhar
O realismo fantástico de Gabo é um bálsamo em tempos ainda conturbados. Quem dera pudéssemos vivenciar realidades mágicas para superar as incongruências do nosso sistema político e social. Nesta obra, chama atenção a conexão criada por García Márquez com o mar, personagem coadjuvante em todos os contos e que ganha até uma justa comparação com o deserto, pois ambos são, em certo aspecto, idênticos, ou seja, um tem "só" areia, o outro "só" água. Interessante, também, foi a conexão entre os contos que compõem o livro com aquele que lhe dá o título e é, por assim dizer, o principal do conjunto. Personagens que nos divertiram ou espantaram nos outros contos habitam o universo de Cândida Erêndira e sua presença implica em alguma significação para a estória. Assim como em "Cem anos de solidão", Gabo nos brinda com o seu melhor nessa deliciosa coletânea. Recomendo a leitura, pois não é todo dia que temos a oportunidade de conhecer uma mulher que queria ser enterrada viva para ter certeza de que seu destino final seria esse em vez de ter o seu corpo morto lançado no mar; ou nos depararmos com Estevão, que na sua individualidade expansiva cativa pessoas que sequer conhecia depois de sua morte; e não se pode olvidar de Blacaman em suas duas versões, a boa e a má; enfim, aventure-se.