Renata CCS 01/02/2013Quando o Nada e a tristeza da existência faziam tanto sentidoNADA foi o primeiro livro escrito por Carmen Laforet, quando tinha apenas 23 anos. É a Espanha empobrecida e de ruas escuras no início dos anos 40 e a dura realidade da época que nos é apresentada através de Andrea, uma jovem órfã que se muda para a casa de parentes em Barcelona para iniciar um curso de Letras na universidade local. O mundo que ela encontra é desolador: os familiares estão falidos e moram todos juntos em um velho casarão, uma casa sem privacidade ou limpeza, onde todos discutem constantemente pelos motivos mais banais. Dentro e fora de casa, Andrea é uma garota de poucas palavras que precisa lidar com vários problemas, como sua timidez e falta de tato para as relações pessoais, sua sensação de deslocamento e o dinheiro curto. E a vida na faculdade, cheia de segredos e falsas amizades, também não é muito fácil. É neste ambiente que Andrea conhece Ena, colega do curso de Letras que se torna sua melhor amiga. As jovens não poderiam ser mais diferentes: Ena é rica, inteligente, alegre, linda e vive cercada de pessoas interessantes. Esta amizade é um sopro de alegria na existência triste e vazia de Andrea. A vida de Andrea oscila entre conseguir preservar sua individualidade e investir em novas relações que possam libertá-la de sua família. Mas insegura e sem amor-próprio ela se torna uma presa fácil das diversas armadilhas escondidas na vida social: todos os relacionamentos acabam sendo pouco profundos e acompanhados de um sentimento persistente de inadequação. Os dias mais felizes serão passados ao lado de Ena e de Jaime, o namorado da amiga. Andrea se alegra sinceramente pelos dois, mas sente-se deslocada e sozinha. As diversas situações que se formam entre a família ou entre os amigos tornam Andrea uma verdadeira heroína urbana. Gostei de ler as inquietudes de Andrea: a briga com ela mesma, a mania de perseguição de qualquer adolescente, a sensação de estar só no mundo. Neste livro, Carmem Laforet trouxe sentido à tristeza da existência. Lamento não ter lido este livro na minha adolescência: seria um livro marcante de imediato.